quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Usinas

A partir do momento em que um radar descobre em si um canal de comunicação com a sociedade por sua qualidade artística, esse radar passa a se sentir menos estressado, menos frustrado, consequentemente mais equilibrado emocionalmente. Não é preciso necessariamente que esse radar experimente a fama, ele precisa simplesmente descobrir em si o canal da sua habilidade para fazer escoar sua comporta de emoções e sentimentos represados, traduzindo sua comunicação sob a forma artística, ou produzindo sua arte como uma forma de refletir nela o que lhe transborda, ainda que seja unicamente para o seu prazer.
Além da capacidade artística o radar tem a habilidade para com profissões específicas como psiquiatria, filosofia, causas humanitárias em geral e outras.
No mesmo compasso o não radar precisa transbordar, entretanto no caso do não radar ele só precisa de uma válvula de escape que esgote a energia física acumulada na sua usina pessoal, e a energia psíquica acumulada na sua tela mental, já que o não radar faz parte daquela parcela mais ligada às coisas da matéria.
A energia psíquica acumulada na tela mental do não radar advém do seu contato com outras pessoas não radares e com as radares, ou “captadoras”.
O radar tem sua tela mental mais afinada com energias sutis, que são energias ligadas às emoções e sentimentos, daí a necessidade do captador ou radar se comunicar passando esse mesmo tipo de energia.
O acúmulo de energias dentro de uma pessoa tem a mesma força que águas represadas em diques, elas geram força. A força deve ser direcionada para a criação, para o esforço físico ou mental. Quando todo esse potencial energético fica contido sem uso ou explode em violência, em patologia psíquica ou é somatizada em doenças físicas.
Todo tipo de energia acumulada no corpo humano deve ser escoada por canais apropriados, incorrendo esse acúmulo em desarmonia física ou emocional. Nosso corpo funciona como uma máquina e como toda máquina precisa estar equilibrada para funcionar perfeitamente. Vejamos: uma máquina qualquer que pode ser um aparelho eletroeletrônico, se sobrecarregado de energia queima, o corpo humano não queima como um aparelho, mas funciona mal, sente dores, adoece.




Bom Dia (da série Bom Dia)
Angélica T. Almstadter


Quero silêncio para mergulhar dentro de mim, e ouvir os meus sons, quero ouvir o badalar dos sininhos que tocam e tocam anunciando que a paz que eu persigo não mora longe daqui.
Não sei se as portas me incomodam por que estão fechadas, ou se me perturba não atravessá-las. Vou me permitir ir pra rua beber a luz do sol e os barulhos do feriado. Quiçá entre tantos rostos e sorrisos eu perceba que a vida é tão mais intensa do que parece. Que esse sopro que ela me mostra; seja só um brinde; para que eu aceite muito além dessa taça requintada.
Vou pra rua, vou ver gente...preciso ouvir vozes e ver crianças de verdade.
Ver namorados, homens, senhoras, velhos, gente que sai à rua pra viver e respirar como eu preciso fazer.
Não ligo mais para essa tristeza que me persegue, ela parece uma segunda pele, que em muitos dias me faz nua, só para desfilar meus pecados, meus sonhos abjetos, é ela responsável pela cumplicidade que me faz mansa mesmo quando a veia ferve ou o ódio me atiça as entranhas.Ah, não estranhe meu ódio assim brutalmente revelado, ele também percorre algumas linhas mestras, nos intervalos do meu amor escandalosamente rabiscado.
Eu não poderia ser uma balança fiel se não transgredisse os mandamentos. A docilidade das minhas palavras também prova o amargo da fúria, e é assim que rompo as portas e avanço para a multidão, vou em busca do silêncio de dentro de mim, que está na rua, no meio dos transeuntes, pra remoer as minhas palavras, açoitar meus sentimentos, remexer as minhas emoções, conversar com meus pensamentos sem interrupções. Não quero dividir esse estorno de sensibilidade que baila na minha pele.
Vou rascunhar na minha memória as minhas vontades, revirar e revisar os meus conceitos, quando colocar as emoções no lugar eu volto e passo a limpo toda a minha ansiedade.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Captando o mundo ao redor

Fica dentro de mim um certo desalento por observar que está morrendo o romantismo, eu que sou uma romântica incorrigível e que tento colocar dentro das minhas poesias e prosas todo um mundo de sonhos e ilusões. Eu ainda gosto de sonhar e cuido do meu coração como se ele ainda fosse um adolescente pronto para se apaixonar indefinidamente, solto o pensamento buscando algures um motivo nobre para ter esperança.
Desde que aprendi a me pensar e me descobrir como pessoa repleta de sentimentos e emoções passei a observação de tudo que se passa ao meu redor, chegando muitas vezes a remoer anos alguma coisa até lhe descobrir o significado. Não tenho e nunca tive o hábito de perguntar como o outro percebe as coisas que o cercam, sempre me limitei a observar atentamente e descobrir através de uma sondagem sutil, seja pelos gestos, pelas expressões ou comportamentos. Não é uma pessoa especificamente que me interessa e sim seu comportamento, seus maneirismos e costumes, além é claro de todo um complexo de informações pela mídia, experiências pessoais, conversas e literatura.
Ao longo da minha vida tenho ainda dividido momentos cruciais, tristes e alegres com familiares e amigos que vão somando informações importantes, mesmo quando não estou pensando nos aprendizados desses momentos eles vão sendo armazenados e quando encontram situações semelhantes mostram-se e registram as impressões principais. Com mais de meio século de existência e experiências emocionais variadas é possível ter uma amostragem grande de comportamentos, reações e as correlações que elas têm com sentimentos e emoções. Como também é possível ter as explicações para esses acontecimentos por vários ângulos, além de saber qual o comportamento realmente é mais usual e o mais adequado para cada situação.


Bom Dia ( da série Bom dia)
Angélica T. Almstadter


De todas as coisas válidas, o que se conta são as experiências, o que fica retido na memória e essa é a nossa essência e o combustível que nos move no dia a dia. O que trazemos guardado na memória e no subconsciente são tesouros que ninguém pode roubar, e ainda que possamos dividir com um número cada dia maior de pessoas; nunca diminui, nunca se acaba e a medida que fazemos uso movimentam a engrenagem toda da nossa vida, nos mantendo vivos e ativos.
Somos a maior complexidade da natureza, pois que além de uma máquina completa que tem funcionamento perfeitamente preparado para enfrentar desafios cada vez maiores e mais elaborados, temos corpos outros que nos dão dimensões diferenciadas; temos alma, espírito e aura que complementam essa diversidade nossa e que nos distingue de toda a criação divina.
Embora a complexidade humana de cada um de nós tenha a mesma base, somos seres diferenciados não só geneticamente, somos, cada um de nós, uma essência única e imutável.
Tão grande e inexplicável é o mistério que envolve cada um de nós que é impossível tentar compreender ou traduzir em palavras o que é a composição de um ser humano em todas as suas dimensões. Não falo de ciência ou de religião ou de mistérios sensoriais, nem da física, nem da parapsicologia ou psicologia, nenhuma ciência por mais completa que seja explicaria com certeza a funcionalidade de cada um num todo, e o por quê da nossa existência.
Está acima do homem e da sua notável capacidade de compreensão os mistérios que justificam a sua composição tanto física como espiritual, e é ai é que mora o grande barato da vida, descobrir a cada dia do que somos capazes, até onde vai os nossos limites, físicos, intelectuais e emocionais.
Em tudo que observamos ao nosso redor, encontramos explicações ou procuramos sempre encontrar, faz parte da natureza humana a observação e tentar encontrar respostas, o homem é um eterno descobridor, é um ser investigativo, e que por ser assim um ser dotado de inteligência está sempre analisando cada vez mais fundo tudo que lhe cerca.
Entretanto como se diz que há mais mistérios entre o céu e terra do que sonha nossa vã filosofia (Shakespeare), prefiro caminhar não pela razão, mas pelo coração, já que o meu coração é o mensageiro da minh'alma e em conjunto definem minha essência única e dela faz a minha vida ser para mim mesma um mistério novo a cada dia, e me põe em campo a pesquisar as minhas razões.
Sou de mim mesma um exploradora incansável, e enquanto a vida me apresentar novas promessas serei sim a cobaia e descobridora dos meus próprios limites e mistérios, levando em conta que abaixo do meu Mestre só eu posso me explicar, se conseguir; e só eu mesma posso me sentir, e isso eu considero um presente divino.






Para muitas pessoas o poeta ou artista de um modo geral, são seres alienados e eu digo que muito pelo contrário, essas pessoas têm as antenas mais sensíveis que as outras pessoas e por isso mesmo é que captam coisas, sentimentos que passam pelos outros sem que eles lhes dêem atenção.
O lado oculto de ser poeta é que tudo nele é visto com lentes de aumento, cada detalhe, cada palavra de um diálogo, cada suspiro e cada expressão por menor que seja, e quando cada situação é vivida pelo poeta, ninguém pode imaginar a ebulição que se dá dentro do seu ser, pode ser essa situação de alegria ou tristeza.
O ver por uma lente de aumento não quer dizer aumentar a proporção, mas sim ver e sentir sutilezas que não se vê sem estar com a alma aberta para o mundo como a do poeta ou do artista está.
Não menosprezando a visão ou o sentimento dos não artistas, mas usando de uma franqueza absoluta: Os artistas de um modo geral são pessoas especiais, pois têm a missão de imprimir na sua arte o sentimento e a emoção para o conhecimento e alegria das pessoas. O artista se comunica com as pessoas através do sentimento, da emoção, porque esta é a verdadeira face do ser humano, a que não pode se trair nunca.
Por mais que tente colocar em palavras uma emoção vivida o poeta nunca o consegue totalmente; dentro de nós a coisa se processa de tal forma que palavras ficam poucas para expressarem nossos sentimentos nossa emoção, de forma a colocar para as pessoas sentirem senão igual, ao menos próximo, do que sentimos quando nos expressamos em palavras, da mesma forma é para um pintor, um escultor ou outro ramo da arte.
Parece-nos sempre que olhamos para a nossa criação que está incompleta, daí o hábito de alguns sempre retocarem, é uma maneira de tentar tornar a nossa arte além de mais bela, mais fiel ao nosso sentimento.
Ao olhar para o mundo e para as pessoas nós poetas temos uma visão muito crítica e muito sofrida, porque por termos a alma aberta para captar emoções e sentimentos, fica impossível não traduzir nosso sentir na nossa arte, já que ela é o nosso reflexo imediato, assim se nos deparamos com coisas boas ficamos exultantes e nossa arte reflete nosso estado de alma, se vivemos momentos de intensa alegria nossa arte explode em cores, e se ao contrário nosso canal capta as dores e mazelas, certamente nossa criação se arrastará dolorida, e talvez dê mais frutos ainda, porque além da tristeza e da dor ficamos com a alma tão compungida que ela nos exortará a criar mais e mais como a buscar em cada criação a maneira mais próxima de expressar a realidade do sentimento ou para sangrar até esvaziar a sensação que tomou conta de nossa alma.
A poesia não se extingue dentro do poeta, porque o que move as palavras do poeta são os sentimentos e emoções por ele experimentados e a sua necessidade de esvaziar a sua alma nas palavras, que compostas à sua maneira própria expressam um momento único onde o seu eu conversa com a sua alma e em harmonia traduz nas letras toda a emoção. Após cada criação o poeta fica em êxtase, seu “filho” está ali bem diante dos seus olhos
e ele tem para com esse “filho” tanto amor quanto se tem por um concebido da carne, esse é o filho da emoção.
Cada criação tem para o criador a lembrança de um momento especial por ele vivido, pode-se até esquecer o motivo que o levou a criar, mas nunca esquecer o sentimento e a emoção no momento da concepção, o poeta tem a memória sensorial permanente.


Bom Dia (da série Bom Dia)
Angélica T. Almstadter


Quando dou vida às palavras, deixo que adentrem os meus sonhos e explorem os recantos da minh'alma, mas não dou espaços e desvãos imerecidos a quem não saiba ler e merecer adentrar meus mistérios, os segredos dos meus férteis sentimentos.
Na vida que desabrocha das minhas palavras quase sempre imprimo um pouco da minha essência, e quem há de senti-la se não me souber ler, ou passear nas minhas entrelinhas repletas de recados ou reclamos.
Quem há de decifrar meus desafios diários ou meus jorros, sem se despir dos preconceitos?
Não...não há de me entender plenamente quem não tiver a alma aberta aos vôos e o coração limpo das amarras e impurezas que prendem à carne, ao mundo das coisas tangíveis e das orgias, pois essas não entoam cânticos, nem sabem da leveza do espírito, nem da alvura da alma.
É inútil cantarolar para a insensibilidade das cervizes duras.
É inútil cantarolar para a luxúria. Não se reconhecem passos leves no chão onde só se ouve a cavalaria trotear.
Dou asas aos meus sonhos porque vão ao infinito e se misturam ao pó das estrelas, às chuvas siderais onde cada partícula tem sua importância, num espaço onde não haja donos e a imensidão os acolhe no silêncio.
Onde a vida só a eles pertencem, porque são livres, castos ou não sem que isso tenha a menor relevância.
Vida que te quero sempre viva nas minhas palavras, alegre, irreverente, audaz, provocante, simples, romântica, mas eternamente pura,
como nasce; sem travas e sem medo do reflexo verdadeiro que a faz de mim sua condutora plenamente sincera.







O mundo está cheio de artistas e poetas e a grande e esmagadora maioria não vive da sua arte, e está aí em muitas outras profissões ganhando o seu sustento e muitas vezes matando o seu poder de criação pela falta de tempo. A criação exige tempo, coisa que fica cada vez mais rara num mundo onde se precisa matar um leão por dia para sobreviver. Mesmo que esses poetas não possam de dedicar à sua arte ou dedique a ela um tempo pequeno, o seu “radar” está pelo mundo a captar os sentimentos e emoções do que gira ao seu redor. O que será que acontece com esse radar de emoções se não expressar de alguma forma? Como será que esse radar vai esvaziar-se se muitos não encontram uma forma de desfazer-se dessa coisa que se avoluma nele? E o que é pior, nem sabem que são antenas nesse mundo.
Todo ser humano tem dentro de si um potencial a ser desenvolvido e quando é descoberta a sua “veia” para uma determinada arte ou função, mesmo que ele faça uso desta de maneira regrada, isso faz com esse ser humano seja mais equilibrado. Por quê? Porque o atrito entre ele e a sua alma acaba sendo menor.


Não se pode imaginar que uma pessoa viva de forma equilibrada se ela não estiver contente com seu trabalho, vamos dizer que ela não tenha uma profissão que goste, não tenha uma situação financeira favorável e se ainda por cima não for feliz na vida amorosa. Se essa mesma pessoa, nas mesmas condições for um radar e tiver a chance de exteriorizar pelo menos parte do que capta, certamente ela conseguirá conviver com essa situação e terá forças para lutar e mudar esse quadro, ou pelo menos parte dele, sem que para isso ela tenha atos comprometedores na sociedade, como a delinqüência. Ao contrário, se não houver para esse radar um canal para escoar o que dentro dele se avoluma, o mais certo é que ele somatize para seu organismo, adoecendo. Algumas dessas pessoas que têm esse “radar” não conseguem conviver com essa coisa de captar sentimentos e emoções, alguns se perdem da razão e acabam por cometer crimes, outros ainda desenvolvem patologias psíquicas. Uma grande soma de pessoas não se conhece e não se conhecendo não tem idéia de suas habilidades e potencialidades, é onde então ela se perde do seu eu, vive por viver sem se questionar e estaciona sem enxergar nada além do seu mundinho físico.


Então se todo ser humano tem em si um potencial a ser desenvolvido e essa mesma pessoa, em iguais condições não for um radar provavelmente ela terá condições racionais de procurar uma profissão onde se realize e uma situação amorosa que combine com sua maneira de ser. Esse não radar está entre as pessoas que falei lá atrás que tem mais intimidade com as coisas da matéria.
Se partirmos do princípio de que há radares e não radares imaginamos que ambos têm visões diferenciadas do mundo e ambos têm uma maneira singular de viver. Agora, se esses dois biótipos não forem reconhecidos por si próprios como pode o mundo ao seu redor conhecê-los e diferenciá-los? Por que diferenciá-los?
Seria ideal se cada pessoa tivesse um encontro consigo própria para definir em que grupo está para se situar melhor no que a cerca e no mundo. Não que isso devesse dividir em clãs as pessoas, mas com isso integrá-las de forma a que interajam mais no seu meio contribuindo para que os seus semelhantes encontrem nelas o exemplo para buscar o equilíbrio e a forma mais humana de viver
Reafirmando, não se trata de dividir as classes, menos ainda de rotular, o que é preciso é que as pessoas aprendam a olharem para dentro de si e dessa forma identificarem o modo de vida próprio de sua natureza para assim descobrirem o que contribui para que elas produzam mais e melhor, tanto no âmbito familiar como social, tanto os radares como os não radares.
Diminuiria sobremaneira a violência e as patologias se os radares se aprendessem como tal e se dessem o prazer de escoar através da arte ou dos interesses pelas causas humanitárias toda essa bagagem que amontoam dentro de si.



Bom Dia ( da série Bom dia)
Angélica T. Almstadter

Tantos são os caminhos, tantas as porta, tão longas as distâncias.
Tão ligeira a imaginação e tão difícil os acessos.
Tantos são os atalhos, tão sutis as falas
e tão breves as circunstâncias.
Momentos, isso sim, são feitos de momentos os nossos melhores dias,
nossos mais fraternos encontros.
Deixam marcas visíveis,
deixam páginas inteiras escritas, deixam saudades gostosas,
saudades doídas.
Deixam uma lágrima que nunca seca.
Não se foge do caminho que está sob os pés,
Ainda que esmurremos portas erradas, a porta certa está levemente encostada
esperando ser aberta muitas vezes; à nossa frente...
e na hora certa, num passo iremos transpô-la.
Não sei se o futuro está gravado em algum livro,
não sei se os acontecimentos
do hoje determinam o amanhã. Sei que caminhamos inexoravelmente
para o amanhã...às cegas.
Sei do que está refletido na minha retina, do que é ansiado por mim, do
que busca meu interior, minh´alma. Sei bastante de mim, sei bastante do que quero, sei do mundo que vivo...
Sei do que preciso. Só não sei se existe...
Sigo minha intuição, minha inclinação, tateio e reconheço alguns traços...
Recolho alguns pedaços dos fatos dos lapsos e em algum ponto hei de
encontrar por inteiro o que me for verdadeiro.
Há um horizonte calmo e definido desenhado à minha frente,
sei que me convida, e com ele vou ter, hoje ou amanhã;
porque sei que me aceita, me tem como sua eleita,
e me embala os sonhos todos os dias em que me perco nas suas
linhas mansas e profundos rasgos.
Não sei se o alcanço enquanto a vida me pulsa,
mas sei que lá derramarei minha essência,
e lá moram minhas vontades...lá sossegam minhas vaidades.
Assenta-se tranqüila minha insanidade.
Lá onde minha inquietude não é questionada.
Lá e só lá me encontrará a vida.




Os artistas e os poetas não carecem necessariamente da paternidade carnal, já que a sua criação acaba por preencher esse espaço; pode parecer louco esse pensamento, entretanto é fácil compreender quando se tem dentro de si essa experimentação, essa visão. Não se exclui desses radares o prazer da paternidade carnal, evidentemente, nem se pode dizer que sua criação é igual a carnal, como também não se pode dizer que os radares não sintam a necessidade ou o desejo da paternidade carnal.
Ao passar um olhar rápido pela história da humanidade a gente comprova isso: Bethovem, Van Gogh, Fernando Pessoa, Mahatma Gandhi, entre outros, sendo que nesse último exemplo temos Gandhi que voltou o seu “radar” em função das questões humanitárias, uma outra forma de esvaziar-se e ao mesmo tempo satisfazer-se como pessoa. Há casos como o de Jean Jacques Rousseau que teve filhos, mas os entregou para instituições porque não se sentia capaz de ser pai com a qualidade necessária.
Os radares de emoções carecem da maioria do seu tempo para criarem, pensarem, refletirem para assim poderem traduzir em textos seus pensamentos, emoções e sentimentos. As pessoas radares que se dedicam as grandes causas humanitárias, são pessoas desprendidas que se preocupam mais com a humanidade com que realmente o que acontece em suas vidas.
A maternidade tanto quanto a paternidade exigem o dom de estar disponível, de se doar por completo, como exige um compromisso e a responsabilidade integral até o fim, evidente que não é preciso abrir mão da sua vida, mas é preciso estar presente sempre como pai ou mãe, a maternidade e a paternidade também é uma vocação.



Da mesma forma que o poeta (ou artista) parece viver alienado porque se interioriza para criar, vive um radar aquele que é um captador de emoções em potencial, mesmo que às vezes ele não saiba que tem esse potencial, são pessoas que gostam de ficar quietas, gostam de ter momentos de solidão para refletir, gostam de ler e toda forma que possa encontrar para estar a sós consigo mesmas. Normalmente as pessoas radares mesmo que extrovertidas são consideradas solitárias, fica claro na maneira que agem, falam e comportam.
Muitos atos estabanados que culminam em violência têm a ver com a invasão de privacidade dessas pessoas, que sem o saberem reagem assim como defesa porque há nessas pessoas um desequilíbrio entre sua alma e seu eu. Mas por quê? Porque essas pessoas não sabem como ou não tem um canal para escoar suas emoções e com isso reagem com explosões violentas ou doentias. Essa falta de conhecimento do lado captador faz com que muitos desses radares vivam em desarmonia consigo mesmas, com as famílias e com a sociedade. Isso talvez explique alguns comportamentos.
As pessoas de um modo geral precisam de uma válvula de escape, alguma coisa que as desligue da rotina e dê prazer, por isso é preciso escolher alguma coisa que relaxe ao invés de deixar tensa. É preciso escolher alguma coisa que acima de tudo dê prazer, que gere alegria e por sua vez libere serotonina. As pessoas que não têm válvula de escape enrijecem e vivem de mau humor.
O fato das pessoas não se conhecerem, mesmo com toda a evolução, é que torna a psicologia, psiquiatria e a psicanálise extremamente importante, embora essas práticas não estejam ao alcance da maioria das pessoas. É uma prática comum as empresas passarem seus candidatos pelo crivo desses profissionais a fim de adequarem aos cargos os perfis dos entrevistados.




Estatutos do Poeta
Angélica T. Almstadter

Ao poetas deveria ser dado somente o direito de sonhar, sem ter que se preocupar com responsabilidades, sem ter que se guiar pelos relógios dessa terra. Os poetas tem as estrelas e os astros como parâmetros.
Aos poetas não deveria ser dado nenhuma obrigação, não para fazê-los vagabundos, mas para deixá-los livres para o mundo.
Aos poetas não se deveria impor o sacrifício de ganhar o seu sustento, o poeta precisa menos do alimento para o corpo que o linimento para a su´alma.
Aos poetas, jamais deveriam ser solicitadas prestação de contas; hora marcada, noção de dia e mês, nem se é de tarde ou madrugada.
Os poetas são seres sem amarras, sem censuras e sem travas. Não sabem viver algemados, não suportam bater o ponto. Não são felizes com asas cortadas.
Os poetas deveriam ser perdoados dos seus esquecimentos dos seus devaneios fora de estação.
Os poetas deveriam ser poupados da razão. Deveriam ter o direito de interromper o que quer que fosse, para rabiscar um pensamento, rascunhar um poema, em qualquer lugar que estivesse, em qualquer hora que a inspiração chegasse, para jamais correrem o risco de se perderem de sua alma, nos momentos de vôos que só aos dois pertence.
O silêncio é o combustível do poeta e deveria ser respeitado, tanto quanto sua tristeza, que não poderia nunca ser investigada.
O poeta gosta da solidão, convive muito bem consigo mesmo, ainda que exploda em versos, prosas e muitas palavras soltas e em tantos pensamentos, até sem cabimentos. O poeta só precisa de um ouvinte, um leitor atento, de carinho, afagos e um, colo sossegado para vaguear os seus desvarios.
O poeta é um amável insensato, que dorme quando deveria estar acordado e tem insônia quando o mundo todo dorme sossegado.
Ao poeta, se deveria perdoar a loucura, a pouca compostura, o cabelo despenteado, o olhar esgazeado; pois a insanidade do poeta é eterna, além da saudade, pois sem saudade, o poeta não hiberna.
Os poetas são sonhos personificados e só por isso deveriam ser cortejados, respeitados e poupados das mágoas desse mundo, pois já tem as suas próprias. Poupados deveriam ser das dores, pois já sangram, sensivelmente pelas dores do ser amado.
Aos poetas, a anistia da razão a euforia da emoção e o beijo delicado.
Ah! Os poetas, esses gentis amantes com suas paixões intermitentes e eternos amores; são deliciosamente ousados e infinitamente atraentes.
Que se lavrem o estatuto, que se reconheçam esse tratado.
Que se abram as portas e que seus vôos beijem, o azul da imensidão sem regras, sem rótulos e sem grilhões; enquanto ainda vivem os poetas nesse mundo de ilusões.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

dos relacionamentos


A vida antes pacata e quase sem ambições foi substituída por uma vida corrida, competitiva e numa desenfreada busca de possuir cada vez mais. O ter passou a ser mais importante que o ser. A tecnologia contribui para que os comportamentos sofram influência direta, já que tudo gira em torno dela no nosso dia a dia, seja de trabalho ou lazer, e as pessoas que não conseguem participar dessa corrida de aquisição tecnológica se sentem marginalizadas, frustradas, e isso faz com que muitos, principalmente os mais jovens, enveredem pelo mundo do crime, roubando e matando, porque essa é a maneira que alguns encontraram para “ter” e assim não se sentirem tão diminuídos diante da sociedade que insiste em negar-lhes o direito de pertencer a uma sociedade justa e igualitária.
Entretanto não é só o jovem que se sente excluído quando não consome, é todo um contingente de pessoas que buscam incessantemente acompanhar em vão o volume e a velocidade cada vez mais frenética da indústria tecnológica, que vai imprimindo nas pessoas o desejo de consumir vorazmente.
Tudo ficou muito descartável, pela maneira veloz com que a tecnologia avança, e juntamente com os aparelhos, as pessoas estão ficando descartáveis; como o ser humano não é uma máquina que evolui tecnologicamente ele vai sendo superado por outro e outro sucessivamente como se isso pudesse explicar a enorme insatisfação humana.
Uma máquina produz prazer por tempo indefinido já que ela vai se modernizando, como no caso de um microcomputador, celulares, MP3 , MP8 e assim por diante e outros tantos, as novidades não param, e ao invés do envolvimento com um outro ser humano que não tem novidades todos os dias, as pessoas preferem o prazer frio da máquina.
Quando digo que as pessoas não proporcionam tanto prazer como as máquinas, digo-o pelo tipo de prazer procurado pelos adoradores de novidades tecnológicas.
Nesse mesmo ritmo surge a tecnologia que retarda o envelhecimento, ou tenta prolongar a juventude, porque ser velho hoje é feio! Imagine dizer isso num país, principalmente nos orientais, onde os mais velhos são tratados como relíquias pelos mais novos, eles que são considerados a verdadeira fonte da sabedoria.




Stand by

eu fazendo download
no meu coração
você em stand by
contempla
vê se acorda e zipa
meus documentos

fiz up date de você
liberei o firewall
e você continua
stand by
vê se acorda e executa
meus programas





É tanta novidade na indústria da beleza que é preciso muito fôlego e dinheiro para se poder acompanhar uma parte, já que o todo é impossível. As pessoas podem se modificar totalmente, remodelar o corpo, o rosto, aumentar e diminuir os volumes de seios, nádegas, barriga, pernas, etc. Podem ter cabelos curtos num dia e longos no seguinte. A coisa ficou tão requintada a ponto de se fazer tratamentos para a pele com ouro, diamantes, cristais.
A indústria da beleza antes só direcionada à mulher hoje tem no homem um alvo potencial também, já que ele hoje também disputa espaço nas clínicas salões e estéticas.
Estimulado por essa nova realidade temos um mercado de relacionamentos muito, mas muito mais exigente, onde a sensação presente tanto para homens como para mulheres é de se estar na vitrine constantemente e vivendo sob a pressão de ser rejeitado por não corresponder ao modelo que as mídias estereotiparam.
Essa vitrine também se pode verificar, não em menor escala, no mercado de trabalho, onde a aparência vale até mais que a capacidade e o conhecimento.
Ter rugas é over! Não ter a pele de pêssego é um pecado, celulite então, um horror.
Pensa-se pequeno quando se procura um relacionamento; e como as qualidades não estão estampadas na face e não despertam tesão é preciso procurar um motivo de tesão, e é claro que ele vem da aparência e se vier acompanhada de um estilo tecnologicamente correto, tanto melhor. O investimento pessoal hoje é muito alto daí as pessoas se valorizarem tanto a ponto de se tornarem exigentes demais na hora de se comprometerem com outra pessoa. Quando um casamento não dá certo e não há filhos envolvidos os filhos homens ou mulheres acabam voltando para a casa dos pais, que geralmente não desfizeram seu quarto, embora essa tendência seja muito maior entre os homens. As mulheres têm uma visão um pouco mais livre quando se trata de terminar um casamento, normalmente elas trabalham e se mantêm e preferem ter seu próprio espaço para recomeçarem sem a interferência dos pais. Os homens preferem estar por perto dos pais, onde se sentem protegidos e que de alguma forma não exige deles tanta responsabilidade em manter seu próprio espaço, por questões organizacionais. O homem gosta mais da dependência da mãe que as mulheres que são criadas mais em contato com a vida doméstica e para elas é mais fácil ter seu espaço que disputar o dela com a mãe.
A maioria esmagadora das mães gosta da volta do filho nessa circunstância é como se recuperasse o filho.
É sabido que o homem quando se casa procura na mulher um pouco da sua mãe, é uma relação meio incestuosa porque o homem quer uma mulher diferente da sua mãe e ao mesmo tempo que possua as qualidades que sua mãe tem, ou gostaria que tivesse.
Mas e a mulher o que procura quando se casa?
A mulher tem uma visão mais romântica, ela procura o príncipe encantado, o homem sem defeitos e que vá realizar seus sonhos.
Será que essa ainda é a visão que a maioria das mulheres tem do casamento? Um pouco, mas já tem mudado bastante porque a mulher tem procurado, especialmente nas camadas onde o nível de estudo é mais alto, um companheiro com quem possa dividir experiências, constituir família e patrimônio, com os pés bem fincados na realidade, por esse mesmo motivo quando não se consegue atingir essas metas por falha de um deles o casamento termina e a amizade muitas vezes permanece, porque a divergência se mostrou só no convívio amoroso.
Os homens embora ainda tenham lá no fundo a mesma busca do tipo Édipo Jocasta; perderam um pouco do interesse no casamento, visto que o excesso de liberdade das mulheres mudou as regras do jogo passando-as de caça a caçadoras. O instinto do homem de ser o cortejador lhe concedia a fama de ser o dono da situação e a partir do momento em que a mulher inverteu esse papel e colocou o homem num pedestal como se fora um objeto; causou nele desinteresse pelo casamento como ato institucional e instigou sua vaidade que o torna de certa maneira desdenhoso para com as mulheres.
A parcela de futuros maridos prefere mulheres que tenham uma carreira profissional e independência financeira, são esses os que olham a mulher não como um adorno para o lar e sim com uma companheira, alguém com quem além de dividir a cama e a mesa tenha motivos outros para conviver. Nesse caso a inteligência da mulher e a sua realização pessoal e profissional também se tornam um atrativo para o homem.
Há ainda uma generosa quantidade de mulheres que preferem não se envolver em compromisso sério e viverem quase que exclusivamente para a realização pessoal e profissional. O mundo moderno abriu as portas para as mulheres crescerem profissionalmente até em profissões que antes eram de exclusividade dos homens, com isso está surgindo mais e mais a mulher independente voltada para a sua satisfação, que pode optar em ter filhos como “produção independente” , com a participação masculina sim, mas sem que necessite da paternidade na criação ou na manutenção da sua cria.
Dos relacionamentos de iguais não tenho ainda uma opinião totalmente formada, meu contato com esse tipo de relação ainda é pequeno para observação, ele só se dá na esfera das celebridades, ou seja longe do meu âmbito social.
É mais fácil falar dos modelos pré-estabelecidos pela sociedade que os considera “normais”, por fazerem parte do nosso dia a dia, entretanto a multiplicidade de modelos de relacionamentos vem ganhando espaço no mundo moderno por afinidades indiscutíveis e para essa gama de modelos é preciso um capítulo à parte.



Boa Noite ( da série boa Noite)


Se me cerco de mil palavras e gestos, é porque sei que faço deles, meu elo com o mundo que atravessa minha soleira, um mundo que não aceita silêncios, não entende olhares. Não gosta e não conhece excesso de franqueza. Não compreende a beleza simples das expressões naturais.
Se receio contatos e toques é porque as mãos que me esbofeteiam hoje, me acariciaram ontem. Se recuso beijos é porque o selo frio dos lábios me assusta, tanto quanto promessas, não cumpridas.
Tenho as frestas entreabertas, e guardo as luas encobertas para que só meus olhos as toquem, uma a uma, em cada fase.
Não me dou em bandos, não me acho além dessas quatro paredes; tenho a sede dos oceanos, mas braços de rios.
Tenho a infinitude da imensidão, a solidão dos astros e a liberdade dos ventos.
Tenho olhos de constelação e brilhos emprestados.
Vejo a vida pelo espelho da minha retina, onde costuro no tempo o que vestirei na eternidade.
Tenho plumagens e não sou pássaro.
Tenho cores e não sou o arco-íris.
Ando solta e sem laços porque sou única
e não me encaixo em nenhuma fenda.
Não nasci para oferenda, mas tenho meu nicho de adoração, onde cultuo e brindo a mansidão serena que me visita em rasgos.
Da minha soleira para o universo
basta um momento, um pensamento.






Há relacionamentos abertos onde cada qual tem a sua liberdade sem que o outro interfira, não sei se é um relacionamento sério já que não há fidelidade nem compromisso de ambos os lados.
A maior dificuldade dentro de um relacionamento hoje é manter a fidelidade, já que hoje as mulheres também descobriram na traição uma forma de dar o troco ao que os homens sempre fizeram. Embora nem sempre a traição seja usada como uma forma de vingança, o que ocorre é que a partir da liberação das mulheres elas resolveram experimentar tudo que antes não lhes era dado o direito.
É preciso lembrar que a traição sempre existiu por parte de ambos os sexos, o que mudou foi que antes era quase que um privilégio exclusivo dos homens e hoje a mulher trai tanto ou mais que o próprio homem.
Além da traição há outros fatores que minam as relações como a falta de responsabilidade em assumir cada qual a sua parte dentro do compromisso, a falta de tolerância para com os erros e defeitos do outro. Há sempre a expectativa de se encontrar outro (a) parceiro (a) que não possua o mesmo defeito, assim os casais estão sempre olhando ao entorno e fazendo comparações.
A facilidade com que se entra e sai de um relacionamento acaba por deixar as pessoas insatisfeitas e sem ânimo de estabelecer um compromisso mais sério e duradouro.
Na minha geração ainda se encontram casais que completaram bodas de prata, casamentos duradouros apesar de todas as dificuldades, entretanto os mais jovens não tem a mesma paciência para lidar com essas mesmas dificuldades, basta observar suas críticas dirigidas aos pais e seus comportamentos.
Muito embora a minha geração tenha sido a geração que inaugurou o desquite e o divórcio e foi a geração que primeiro experimentou a troca de parceiros ainda é uma geração de casamentos longos, ainda que sejam dois casamentos, diferentemente das mais novas onde os casamentos terminam bem antes de completar 7 anos.
Apesar de tanto experimentarem relacionamentos, tanto homens como mulheres, não aprenderam ainda a poupar os filhos de seus desvarios, evitando colocar no mundo filhos sem uma família para servir de apoio para seu crescimento e desenvolvimento social. Ao se envolverem em vários relacionamentos sem saber ao certo se algum deles vai se tornar um relacionamento sério, seria preciso que ambos tomassem cuidados para evitar que tantos abortos fossem feitos comprometendo a saúde de tantas mulheres, e o nascimento de filhos indesejados, frutos de um prazer passageiro.
A cada dia se pode ver nos noticiários quantos filhos são jogados no lixo após o nascimento, como se fossem algum objeto sem importância, conseqüência do pouco valor que se dá a vida.
Eu ainda me pergunto o porquê dessas mães não terem usado a camisinha ou outro método anti-conceptivo, já que o nível de informação hoje é massificado e excluindo o interior dos estados onde a mídia não chega com o mesmo volume de informações fica quase impossível acreditar que seja só falta de cuidado.
Não acredito faltar informação para esses jovens, acredito sim, na falta maturidade e de perspectivas de ambos quando se jogam nos relacionamentos, usando os mesmos somente para extrair dele prazer inconseqüente. Não obstante terem esses jovens o exemplo de outros jovens e muitas vezes até seus amigos, acabam incorrendo no mesmo erro.
Dentre os jovens que tem um nível de escolaridade maior também há ocorrências desse tipo, porém em quantidades menores; esses jovens priorizam seus estudos e para tanto tomam mais precauções a fim de evitarem que fuja do controle o relacionamento e que produza frutos indesejados que podem atrapalhar os estudos e uma futura carreira.
Como a experimentação das relações completas começa muito cedo e sem restrições é comum verificar jovens ainda completamente desiludidos com os romances e desinteressados em firmar compromissos mais sérios e duradouros, não há expectativas nem novidades tudo já foi consumido desde muito cedo

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Loucuras?

Da minha constante observação e vivência dos fatos ouso dizer que psiquiatria nunca foi tão profícua quanto agora, como nunca engatinhou tanto, senão vejamos: O número de transtornos explicados pela psiquiatria tem aumentado consideravelmente da mesma forma que o desconhecimento em lidar com tanta diversidade. Hoje ser “normal” é ser a minoria, porque de perto, como diria Nelson Rodrigues, ninguém é normal. Vamos chegar a um tempo em que seremos separados por tribos psiquiatricamente explicadas.
Convivemos numa sociedade onde as pessoas têm comportamentos conflituosos para consigo mesmas, sem que isso afete seu convívio social, da mesma forma que se adentrarmos as famílias vamos observar que não é raro encontrar no meio delas os mais variados distúrbios psicológicos e psiquiátricos.
Apesar da psiquiatria hoje oferecer tratamento para a grande maioria de distúrbios mentais, não existe uma política adequada para atender ao crescente número de pessoas que carecem desse atendimento. Não existe suporte psiquiátrico por parte das instituições governamentais para tantos pacientes e para tantos familiares, pois não só os pacientes carecem de atenção e tratamento, as famílias também carecem de suporte psiquiátrico para aprenderem e suportarem conviver com seus pacientes, sejam eles produtivos ou não.
Apesar dos transtornos como T.O.C Transtorno Compulsivo Obsessivo, da Esquizofrenia, Psicoses moderadas muitos pacientes com ou sem tratamento são produtivos, ou seja, trabalham, estudam e tem toda a liberdade de ir e vir sem constrangimento, o que eu, particularmente considero um ganho, pois a medida que essas pessoas se imiscuem na sociedade e trocam com ela experiências conseguem conviver com suas dificuldades e muitos aprendem com essa convivência enxergar em si a necessidade de buscar uma maneira de se integrar.



Loucura?
Angélica T. Almstadter

No balanço das palavras desconexas
Mordo sons entre os dentes apertados
Como compreender o tênue fio
Que traspassa esse portal
Se todas as imagens são complexas
Os sentidos revirados
E estampado no rosto, o riso é vazio?
Nada é pouco, e nem tudo é total
Existirá um limiar para razão,
Ou um patamar para loucura?
A inquisição que crucifica
Confere os atos, mas, produz reflexos?
Quando conhecer a sinceridade pura
Como conduzir a censura?
Qual o ato que por si se justifica?
Será que insanidade diferencia sexos?
Onde as dores dessa fé se estancam?
E onde se derramam?
Qual foi o tribunal que cegamente
Assinou com lágrimas essa sentença?
Quanto vale essa presença
Que atribui aos olhos vagamente
Um mundo que parece real?
O dia a dia repleto de rituais
A entrega silenciosa?
E na pira de sacrifícios: a vestal
Despe a alma amorosa
E passeia entre os desiguais
Ou iguais...

terça-feira, 7 de julho de 2009

As insanidades


O que poderia explicar senão um transtorno psíquico um jovem que não esteja sob o efeito de uma droga, empunhar uma arma entrar numa faculdade ou num shopping atirando a esmo em diversas pessoas? Como entender um pai matando um filho de forma violenta e brutal ou vice-versa? Como entender a pedofilia? Por que um pai sevicia uma filha? Cadê as barreiras naturais de respeito, de pudor?
A droga está por toda parte, tanto as ilícitas como as lícitas e não se consegue combater seu uso. Pelas drogas ilícitas se morre e se mata muito; por conta dela a sociedade vive com medo e acuada pela violência que ela provoca em todas as camadas da população, porém as drogas chamadas lícitas como a bebida têm minado sobremaneira as famílias, e para ela nem um tipo de combate é usado, as famílias ainda convivem com o estrangulamento causado por ela.
Tanto uma como outra rouba o que tem de melhor a vida do seu viciado, que se perde da realidade porque busca dentro dela uma fuga. A dor que existe dentro de cada um é que move em direção a essa fuga loucamente desenfreada da realidade.
O dia seguinte é um pesadelo tão dolorido e para fugir dessa dor ainda maior que é a culpa, a fuga é a única saída, e o processo vira uma bola de neve.
Às vezes é preciso estar sob o efeito de alguma droga para que a personalidade verdadeira venha à tona, é assim que muitas pessoas soltam seus monstros, revelam a face feia oculta pelas máscaras do dia a dia social.





Boa Noite ( da série Boa Noite)
(Em homenagem as mulheres)

Como te acusar de violência, se não tenho hematomas para exibir...
Se tenho a pele limpa
e nenhuma fissura ou vergão?
Como explicar essa prisão, se não se pode
ver as grades?
Não ando atada, nem tenho algemas nas mãos,
mas quem pode garantir que sou livre?
O assalto dos pensamentos, o estupro da individualidade e a violação da intimidade
não é visível aos olhos dos passantes...
A intimidação, a coação a ameaça velada
te garante a supremacia de macho, mas não te dá
o lugar de homem no meu coração;
esse ato canalha e boçal não deixa pistas...
e põe um brilho sarcástico no teu olhar...
O quanto ainda passas por perpetuador da espécie, senhor, amo e soberano enquanto mantém tua vítima aprisionada ao medo...
Teus direitos sempre são sagrados, só eu não posso ir e vir sem pedir consentimento...
Simulas como cansaço a tua indolência, como mero esquecimento a tua negligência...
enquanto um esquecimento meu vira motivo de punição...
O meu direito de pensar e decidir é considerado rebeldia, só a ti o direito de expor pensamentos e decisões...


O que me sobra senão o segundo plano?
Os nãos são todos privilégios teus, e os meus sins devem ser sempre ao teu favor...
Que mundo é esse que te dá direitos e a mim, deveres?
Comunhão ou privação de individualidade?
Casamento ou título de propriedade?
Amor ou posse?
Violência sussurrada atrás da porta,
em doses pensadas e meticulosamente estudadas...essa que não te acusa, por falta de provas...




Olhando assim a olho nu, ou seja, sem ter uma formação clínica ou acadêmica, fica difícil diagnosticar o que faz a nossa sociedade doente, contudo nada impede que eu ou qualquer cidadão olhe, analise e tire as suas próprias conclusões, já que tudo está aí tão às claras.
No meu entender tudo tem uma explicação e para quase tudo uma solução ainda que paliativa.
Minhas experiências pessoais e minhas observações juntamente com uma reflexão exaustiva mostram-me que para cada dificuldade enfrentada há sempre uma causa, aparente ou não, e cada um de nós tem uma maneira de enfrentá-la e através desta também fazer desencadear outra seqüência de comportamentos, que algumas vezes podem ocasionar um mal pior que a própria dificuldade.
O que faz com que um jovem enverede pelas drogas? Frustração? Desilusão? Ou simplesmente a vontade de conhecer o outro lado da sua personalidade, aquele que fica escondida por medo da censura? Talvez a vontade de ser livre para fazer o que é condenável pela sociedade, será? Seria um jeito de perder a inibição? Ou a vontade de ter a droga como escudo para sua loucura interna represada?
É um intrincado de sentimentos e emoções envolvidos no comportamento das pessoas e que a partir disso reflete na sociedade. O que faz com que a droga aumente cada vez mais o número de usuários senão a idéia de uma ilusão fantástica, de uma viagem sem fronteiras? A venda da droga também induz ao seu usuário um acesso a liberdade nunca experimentada, bem como uma fonte de prazer. O viciador tem como sua principal arma pegar o usuário pelo emocional, e isso sempre se dá em todos os casos. A meta do indivíduo que induz ou do objeto viciante, é incutir no emocional da vítima sugestões que o levem a experimentar para aliviar alguma “dor” ou dificuldade e consequentemente ficar dependente, o vício nada mais é do que uma dependência psicológica.

Ocorre que atrás da droga existe uma indústria, que enquanto ela destrói vidas, adoece a sociedade, uma parcela de pessoas enriquece. E como a droga é um jeito “rápido e fácil” de enriquecer muita gente acaba mergulhando no tráfico, buscando esse lucro fácil, uma vez que não precisa fazer propaganda, não precisa nada além da droga, dos dependentes e a curiosidade do iniciante. A droga tem um apelo tão forte, que mesmo sendo amplamente divulgado seus malefícios isso não impede que as pessoas caiam na sua armadilha.
O burilar do emocional das pessoas é uma tarefa que fazem com maestria os interessados em vender a droga, empregando técnicas inteligentes; como oferecer gratuitamente para iniciação. Há que se levar em conta que o terreno usado para empregar essas técnicas, que são os mais férteis. Os jovens além de estarem começando a experimentar as coisas da vida, situações novas, sentimentos novos, também estão prontos para se lançarem no que no primeiro instante parece só uma aventura recheada de prazer, e estes são os melhores alvos, pois sem terem ainda compromissos sérios e serem presas fáceis estão abertos às novidades.
Os jovens têm ainda o lado emocional turbulento em função de tudo estar ainda acontecendo como espocar de fogos na sua tão nova existência e por não terem a vivência que lhes dê discernimento experimentam sem avaliar com conhecimento suas conseqüências.
Quando esse jovem não vive uma situação mal resolvida no âmbito familiar ou frustrações próprias muito grandes, ou ainda profundas dificuldades de relacionamento, ele é capaz de simplesmente experimentar sem que isso vire nele um vício. Ouso dizer, que todo jovem que mergulha no vício sem encontrar uma saída tem dificuldades com as quais não consegue lidar, e pior que isso, dificuldades que ele não consegue dividir com outra pessoa. A juventude é rica de acontecimentos; tanto bons como ruins, muito desses acontecimentos o jovem não consegue explicar e não consegue entender e se esse jovem não tiver laços de afetividade fortes, e se não possuir uma família que lhe dê a certeza sólida de segurança nos aspectos emocionais, ele vai se perdendo, no caso aqui, ele se perde da família para as drogas e seguramente para o mundo do crime.
É evidente, que na juventude quando as novidades do corpo e as novidades nas emoções e sentimentos começam, todo jovem vive um momento de muitas dificuldades de entendimento e aceitação, isso não quer dizer que todo jovem experimenta ou que todo jovem vá cair nas malhas da droga, mas que por todo esse acontecimento ele passa a ser uma vítima em potencial não se pode negar.
A principal meta de ataque do vício de um modo geral é onde “dói” no emocional, dessa forma é que se processa o vício por anfetaminas, barbitúricos e etc. Uma pessoa que consome barbitúricos é porque foge da falta de sono, da ansiedade, como a de quem consome drogas de emagrecimento e dos que consomem bebidas. Para todo tipo de vício há uma dificuldade emocional, seja ela aparente ou não.



Os padrões familiares hoje não têm a mesma rigidez de outros tempos; nós os pais tendemos a conceder aos nossos filhos senão tudo, quase tudo que não pudemos ter inclusive o direito de não nos respeitarem. Por isso mesmo nem adianta reclamar quando nossos filhos falam alto, ou nos agridem verbalmente, nós mesmos demos a eles a liberdade de se expressarem desde muito pequenos da forma que entendessem. Ao invés de educá-los com liberdade, incutindo neles o respeito no trato para conosco, nós usamos e abusamos também do desrespeito quando gritamos com eles, quando desrespeitamos sua inteligência e entendimento e quando mentimos para eles.
Protegemos tanto nossos filhos a ponto de não os deixarmos sequer se sujar, com isso eles demoram a crescer. Enquanto nós fomos obrigados, por conta dos costumes, a amadurecer cedo e nos tornarmos responsáveis antes mesmo de ter idade para isso, nossos filhos chegam perto dos 30 anos e até passam dessa idade dependentes financeiramente de nós, só estudando e se preparando para a vida. Lá fora onde nem tudo é tão azul para aqueles que não têm a mesma dignidade de freqüentar uma faculdade os jovens também demoram a se tornar responsáveis, mesmo que trabalhem desde muito cedo, ainda que nesse ponto levem uma pequena vantagem com relação aos que só estudam e dependem exclusivamente dos pais.
Não há um manual que nos ensine como educar, via de regra aprendemos no dia a dia, enfrentando e vivenciado a maternidade e paternidade. Não seremos como nossos pais e nem nossos filhos o serão como nós, cada um descobre a sua maneira de educar.
É claro que existem semelhanças entre os padrões de cada época e por isso mesmo cada geração tem um modelo, que é próprio dessa semelhança de comportamento dos pais.




Trilogia


Três cartas em branco.
Três sorrisos francos.
Incógnitas oferendas;
De partos as prendas.

Três recados distintos.
Três taças de absinto.
Serenatas na chuva,
Vinhos de especial uva.

Três selos marcados.
Três beijos separados.
Três idiomas estranhos,
Três caminhos risonhos.

Uma homilia e três missas.
Três nós, uma madeira maciça.
Uma anunciação, três vidas.
Três bênçãos e três feridas.

Três rios exuberantes,
Agonias lancinantes.
Três certezas consentidas,
Três belezas embrutecidas.

Essências etílicas brutais,
Vertigens tão desiguais,
Humores de frio metal,
Afiadas lâminas do mal.

Três velas içadas no mar;
Navegadores a vagar
Engolindo atônitos vendavais,
Cuspindo terríveis temporais.

Três amores e três dores,
Meus anseios e temores;
Três poemas prediletos,
Três martírios secretos.

Três caprichos da natureza,
Uma inalienável certeza;
Três vidas tivesse, três vidas daria
A cada uma dessas poesias.

sábado, 4 de julho de 2009

a Robotização

É comum ao andar pelas ruas observar as pessoas voltadas para seu mundo, mas as pessoas agora além de andarem voltadas para si próprias começam a andar cada vez mais acompanhadas pelos seus fones de ouvido, um sinal claro de que não querem conviver com o externo e que não admitem se separar de suas maravilhosas “maquininhas de prazer”.
Houve um tempo em que até se podia ter mais privacidade sem que isso implicasse em se isolar dentro de si mesmo usando subterfúgios, com o avanço da tecnologia as pessoas estão mais disponíveis para serem encontradas, entretanto isso se dá muito mais pelo prazer de compartilhar as novas descobertas tecnológicas do que pela absoluta necessidade delas. É evidente que os meios de comunicação mais eficientes e rápidos asseguram a agilidade da vida moderna, o cruel é que escraviza as pessoas antes mesmo que elas se dêem conta.
As facilidades vendidas sem tréguas fazem com que nos sintamos seduzidos incondicionalmente pelas novidades tecnológicas. A intimidade com as máquinas começa muito cedo, e se por um lado faz com as pessoas desenvolvam suas habilidades, produz também um sem número de preguiçosos que preferem nada fazer senão com o auxílio delas; como por exemplo, pequenos cálculos, redigir uma carta de próprio punho entre outras.
Além das vantagens que a tecnologia nos trás é preciso levar em conta que essas vantagens fazem com percamos cada vez mais a mobilidade física, ou busquemos substituí-la por outra artificial além de nos afastar da capacidade de refletir.
É cada vez mais urgente aprender a lidar com as novas tecnologias, uma vez que elas se superam dia após dia com muita rapidez, por outro lado surgem mais e mais cabeças pensantes ocupadas em atribuir funções para essas tecnologias através de softwares e uma preocupação crescente em “robotizar” o mundo para que tudo funcione metodicamente com toda essa parafernália.
Paralelamente a isso o homem se comporta como uma parte dessa engrenagem tecnológica sem se aperceber que está desaprendendo de pensar, de se pensar e se sentir.
Os hábitos estão mudando e ao invés das pessoas passarem mais tempo na companhia de outras fisicamente elas o passam através do celular, do microcomputador. Do mesmo modo relacionamentos de amizade e futuros namoros surgem através desses meios, e muitos deles não passarão de uma tela fria.
Inventa-se todos os dias novas maneiras de se relacionar por essa misteriosa tela fria, usando-se todas as armas que for preciso para impressionar, alguns lançam mão de fotos de outra pessoa, de photoshop e também, claro, da webcam.
É usual para os conectados terminar o namoro por mail, por celular, msn etc, coisas impensáveis quando se leva em conta o peso de um relacionamento por mais breve que ele seja.
Quando a conversa é travada cara a cara as pessoas têm mais pudor em mentir seguidamente, ao passo que se travada por uma tela de computador ela ganha os contornos mais imaginários; pressupõe-se que a falta de olho no olho e a necessidade de impressionar aumenta, e aumenta a ponto das pessoas se sentirem compelidas a mostrar um perfil quase que perfeito, pelo medo da rejeição.
Não há ainda o que indique o porquê das pessoas se sentirem tão atraídas pelo que não podem ver ou tocar no primeiro encontro, ou será que é justamente o não poder matar a curiosidade de imediato que torna as pessoas atraentes?
O interessante é notar que até as pessoas não muito acostumadas a se exporem, acabam por deixar a alma impressa nas entrelinhas de sua fala, mesmo que não o perceba, outrossim, as pessoas mesmo que não tenham o hábito de falar de si, desandam a contar de suas intimidades, gostos e desgostos pelo simples fato de se acharem protegidas ao falar com alguém totalmente estranho e separados por uma tela!? E o mais estranho é se confiar de imediato em alguém que não faz parte do círculo de amigos íntimos.
Esses novos modelos de relacionamentos acabam por minar um pouco o sentimento das pessoas; porque se de um lado aproxima pessoas por afinidades criando expectativas que nem sempre geram uma futura história bem sucedida, por outro desilude outras tantas exatamente por não garantirem a sinceridade desses relacionamentos e o futuro promissor para esses relacionamentos, que na verdade são baseados principalmente em aparência e status. Ainda assim muitos desses relacionamentos chegam a casamentos ou vias de fato, se durarão só o tempo dirá.
O que é muito marcante nesse tipo de relacionamento é falta de compromisso, ou seja, as pessoas usam desse meio como distração, ou para um segundo relacionamento ( extra conjugal ) sem se preocupar com os sentimentos envolvidos. Como sintoma mais grave dos novos tempos cresce desbragadamente a falta de responsabilidade para com os sentimentos do outro e o próprio.



O grande viagra


De repente todos os homens passaram a ser grandes intelectuais, não há homens que não sejam cultos e a quantidade de poetas então, afff, foi pras alturas! Todos os homens agora são sedutores, belos espécimes e garanhões a toda prova. Não existe mais barrigas de cerveja, carecas ( nada contra os carecas, heim) e baixinhos atarracados. Só existe no mercado hoje homens malhados, barriga de tanquinho, perfumados, nobres e galãs.
Quem disse que se encontra agora homens suados e babões, ou tipos com as calças presas no pescoço, chulé e bafo de onça?
Na na ni na não, os homens agora são tão educados e gentis, sempre falam sussurrado, na maior delicadeza, nada de coçar o saco ou palitar os dentes enquanto conversam, são gentlemans e tem as unhas aparadas, nada de unha do dedinho comprida pra coçar o ouvido (argth). Se tem bigodes ou barbas são bem cuidados, nada de encontrar restos do jantar neles.(rs)
Adivinhem se eles envelheceram? Claro que não, e não vão envelhecer, estão todos conservados, e na maior forma física, não os chame de coroas, no máximo de maduros, porque eles ainda estão no maior pique, e ser maduro é sinônimo de charme, principalmente se tiverem boa situação financeira, carro do ano. E se forem grisalhos então... são o sonho de consumo.
Agora é claro que pra não ficarem solitários esses super-homens vão encontrar mulheres poderosas, com corpinho tipo violão, pernas lisinhas, sem nenhum pelinho, bundinhas durinhas e arrebitadas, peitos fartos e olhando pro céu. Pensa que essas mulheres maravilhosas cheiram a donas de casa? Nãão! São todas executivas ou estão com a vida ganha e só fazem trabalhos domésticos porque são prendadas, algumas são mestras na arte de amar outras são doces meninas ingênuas, querendo aprender. Nenhuma delas pensa em arrumar um namorado virtual, estão presentes na mídia só pra desestressarem e mostrarem seus "talentos".
Se você pensou que são todas livres se enganou, e nem todas são comprometidas, mas todas são independentes. Criaturas esculturais, cultas e extremamente delicadas, nunca falam palavrões, se vestem como deusas. Nem ouse pensar que são gordinhas ou que usam óculos, essas divas não tem barriguinhas flácidas, pneuzinhos e estão sempre de unhas feitas, pés macios dentro de saltos deslumbrantes.
E como se isso fosse pouco, esses aviões são grandes escritoras, poetas e artistas, lindas louras e sedutoras.
Nem sonhe em desmascarar essas lindas ninfas, famintas por um noite de amor, dentro de um negligê preto, isso não é justo!
Chato mesmo é descobrir que isso tudo não é real, que o grande viagra está na imaginação de cada um, porque atrás dessa tela podemos ser quem quisermos ser. Há os que gostam de ser verdadeiros, e os que não se aceitam e partem pra fantasia.
O grande barato da era das comunicações em massa é que, os que não fazem mais sucesso ao vivo e a cores estão se dando bem atrás dessa telinha, e torcem pra nunca o virtual virar real, senão acaba o glamour.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Insigth ( continuando)

Com o crescimento tecnológico o homem vai ficando cada vez mais só, porque temos ao nosso dispor maquininhas de todos os modelos e tamanhos, com tantas funções que começa a faltar tempo para o convívio com o outro. Se por um lado o grande ganho desse século é a tecnologia que facilita a vida, que garante conforto, beleza e comodidades, por outro afasta as pessoas, joga-as numa solidão desenfreada. E eis que teremos nas próximas gerações pessoas voltadas para seu próprio eu, tristemente solitárias e depressivas.
Tomara esteja eu redondamente enganada ou as pessoas vão perder a alegria de ser uma obra divina e sem igual.
A troca entre pessoas é saudável e permite que cada um cresça justamente por causa dessa troca indispensável e salutar.
Os sentimentos é que não mudam, temos hoje, como terão amanhã nossos sucessores os mesmos que experimentaram nossos antecessores, o que muda talvez seja a qualidade deles, penso que os sentimentos experimentados em circunstâncias mais simples têm um grau de pureza muito maior. Da mesma forma, que ficam banalizados os sentimentos quando rodeados de outras tantas paixões ou necessidades.
O que muda sempre são os comportamentos, os maneirismos ainda que acompanhados dos nossos velhos e conhecidos sentimentos e emoções. Dentro desse contexto é que é maravilhoso observar como se portam as pessoas, ou como me porto eu mesma diante dessa mudança tão fantástica e rápida; desde a minha adolescência até a adolescência dos de hoje. Como é assustador o salto de comportamento que deu a geração dos meus pais para a idade adulta da minha geração; como rompemos fronteiras, como fizemos concessões e como nos distanciamos dos nossos pais em tão pouco tempo.
Apesar do ganho de liberdade que conquistamos com tanta luta, criticamos hoje o excesso dela; escancaramos tanto a porta que já não encontramos freios para tanta abertura.
O passar do tempo não mudou, no entanto, a essência do homem que depois de tantos séculos continua reagindo de forma muito semelhante.
O que mudou então se não foram os sentimentos as emoções e se continuamos a reagir a eles de forma similar? Mudou a maneira como nos encaramos a nós mesmos assim como mudamos também a forma de encarar o outro.
Os valores com o passar do tempo foram se transformando; com isso as pessoas foram deixando de dar importância ao que por muito tempo regulou os comportamentos; ou seja, as regras. A conseqüência mais desastrosa dessa mudança de valores é que, diminuiu a distância entre as pessoas na mesma proporção que o respeito.
É impossível falar da mudança de valores sem citar a falta de ética que se espalhou por todos os setores da vida moderna. Dizia-se antigamente que um fio de bigode valia pela palavra de um homem, hoje nem assinatura registrada em cartório mais vale.



Anjo e Demônio


Trago dentro do corpo uma prece e um pecado...uma prece que me guia e um pecado que me consome...
Trago dentro de mim um templo e um altar... um para o recolhimento outro para encantamento...enquanto num chora o anjo no outro arde a chama da carne...
Sou o avesso da orgia e uma porta para a utopia...em mim tudo habita...no prazer de cada gesto ou na loucura de cada movimento brusco...na mão pousada em repouso, pela delicadeza de um momento ou na dança dos corpos em muitos movimentos...entre um átomo e o universo o início e o fim de cada ato...
No fio tênue que balança num riso hilário, passeia minha pele e minha sensatez, uma porque é acesa e a outra que me mantém no fio do equilíbrio...uma que sustenta a linearidade e outra que desliza no fio da navalha, têmpera de igual textura, afiada na mesma forja.
Trago dentro de mim uma anjo e um demônio...um que me segura e outro que me empurra...um que me mima e outro que me alucina...
Tenho dentro das minhas entranhas fel e mel, fogo e água, nem sempre na mesma proporção, mas sempre em profusão...nunca uma mistura, na essência que me segura, cada manifestação é pura.
Sanidade ou loucura nem pouca nem muita, doses exatas para o bom rendimento...diante da veia torta que explode ou diante da santidade que me agita...E só uma que em mim grita...a minha alma aflita....que nunca sabe onde se prostra, onde se encosta, se na polaridade da minha vontade ou na liberdade que o vento mostra...
Trago dentro de mim a vida e a morte...em doses não muito precisas...Num talho da vida o amor jorra...e num jorro sem norte, a ceifa colhe a sorte...



Os consultórios dos psiquiatras estão cada vez mais disputados pelas psicoses dos tempos modernos, pela diminuição de preconceito contra os psiquiatras e muito pela perda de pudor das pessoas tratarem seus “diferentes”, e sua própria diferença comportamental. É evidente que não só apareceram agora os esquizofrênicos, os autistas, os maníacos depressivos e os portadores de T.O.C. entre outros, infelizmente a medicina não dispunha desse jorro de informações e tecnologias que se tem hoje para lidar com esses padrões diferenciados de comportamento ( nossos diferentes, ou antes; especiais), nem tantos haviam saído da obscuridade como agora. A partir do crescimento da mídia escrita e falada, da necessidade de produzir notícias e da vigília constante dessa mesma imprensa, nada mais passa despercebido.
É difícil não pensar na diversidade de problemas mentais, mas é mais difícil ainda pensar que os que não estão nessa categoria, e são classificados, se assim se pode dizer, como emocionalmente descompensados, e os de comportamentos perigosos, nefastos ou aflitivos, refletem afora isso um reflexo dos novos tempos.
Nem os pacientes notadamente comprometidos psiquiatricamente para o convívio social têm um atendimento adequado, que dizer então dos que podem e devem conviver socialmente, dos produtivos em tempo onde as pessoas se devoram, consomem e se descartam com tanta facilidade.
Apesar do conhecimento de todas as psicoses inclusive das modernas e apesar de toda a movimentação dos consultórios psiquiátricos estamos longe de conseguir dar um suporte adequado tanto para pacientes como familiares.


Loucura

Quem pode dizer onde termina a razão e começa a loucura. Até onde vai a sanidade de cada pessoa? Será que existe mesmo sanidade ou a loucura nossa de cada dia tem lampejos de lucidez entremeada por um excesso de cuidados.
Quem dirá ser prova concreta da razão em estado de tensão absoluta, atado aos desmandos da cruel domesticação da vontade, ou circunscrito num lúdico jogo de pedras marcadas.
Quem se arvora bater no peito e proclamar senhor dos seus atos, consciente dos reflexos, estando ladeado de risos e grunhidos torturadores e incessantes quando nem se pode fugir do palco da tragicomédia?
Quem pode na platéia esconder o riso ou as lágrimas? Demonstrar mansidão comedida enquanto o espetáculo da vida é tecido e regido pelos fios tênues da suas próprias mãos.
Até quando se pode manter contido num frasco frágil tantos dilemas e perguntas sem respostas, sem que o estopim se acenda pela própria ação do calor inflamado pela pressão interior?
Não existem delitos advindos da loucura que grassa no grande circo dos horrores. Nem tampouco sanidade suficiente para segurar ao pé da razão os marionetes do grande espetáculo.
Fia-se todos os dias a paciência como num mosaico de peças miúdas colhidas uma a uma, com a única finalidade de demonstrar uma aparente sanidade.
E ao final, quem pode assegurar que a vida não passa de uma grande e vil mentira?
Onde a loucura transvestida de razão passeia pelo palco em busca de aplausos, e a sanidade; esta se diverte loucamente nos botecos enchendo a cara.



Por mais que eu observe e por mais que eu procure explicações há coisas que não ficam muito claras; se os sentimentos não mudaram, as emoções também não, por que as pessoas se descartam com tanta facilidade? Talvez seja porque a busca interior de cada um ficou mais exigente, ou será porque as pessoas perderam o mistério? Só isso pode explicar, a meu ver, porque os relacionamentos se descortinam tão facilmente, já desde o primeiro encontro, aí outra pergunta me assalta: Por que devorar-se um ao outro tão sem reservas desde o começo?
É como se as pessoas tivessem uma sede urgente, por isso a pressa de consumar tudo tão rapidamente e sem que elas se dêem conta uma enorme insatisfação que nelas se instala; é o início de um círculo vicioso. O que percebo aqui, é que as pessoas no afã de se satisfazerem tornam-se cada vez mais egoístas, mais e mais voltadas para a sua satisfação que parece nunca saciar, consequentemente vão ficando mais frustradas.



Sobre os relacionamentos modernos


Em meio às tintas de tantas palavras e carinhos sempre uma dúvida me assalta; somos cada um, um universo, e dentro desse espaço que nos acolhe , vivemos soltos sem rastros, sem laços e sem fronteiras, como saber se dentro dessas linhas a sinceridade é pintada com cores fixas...
Já não há segredos tão bem guardados, mas ainda há a perplexidade de se saber que em cada esquina uma nova emoção te colhe e para cada sorriso enviado um novo desejo nasce porque os afetos nem sempre se fecham dentro de uns poucos braços...
Fica a sensação de que não se conhece mais a distância, nem física nem emocional, quando se trata de emoções e de ligações, e quem há de dizer que não existe lealdade estampada nesses semblantes que parecem tão serenos tão vivamente próximos e reais.
Quanto mais o tempo escoa, e mais as relações se estendem como braços em todas as direções, mais se vê a face de cada um. E quanto mais se revela a intimidade, mais se maquia a realidade, fica-se exposto como fruta pronta para ser consumida. Vira-se platéia nesse palco de tantas alegorias e representações onde cada um recolhe seu quinhão de alegria e guarda sua cota de choro, pelas frustrações que entram pelos olhos adentro sem pedir licença, sem ao menos se preocupar se o outro resiste.
Cruéis são os tempos de liberdade exacerbada, de experimentos e novidades onde se paga caro demais para se ter braços abertos e relações estreitas, quando os valores de cada um são diferentes, quando há uma deturpação de conceitos e uma revolução nos sentimentos e nas ligações.
Seria o paraíso, se não houvesse más intenções, mas humanos são os homens e sujeitos a todos os tipos de tentações; frágil na sua estrutura perde-se irremediavelmente sem saber como se comportar num mundo onde tudo está a mostra e pronto para ser consumido, rapidamente.
Escolhas: são elas que nortearão os nossos sentidos, mas antes de optar, há que se conhecer as próprias defesas e monitorar as ações, para que o abismo não seja o ponto final de cada um de nós.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

cont



É assim poeticamente que é possível traduzir em palavras um pouco de todo o sentimento que vai dentro da alma de uma pessoa “radar”; sim os poetas são radares abertos para o mundo. Deles toda a energia emerge em forma de emoções e sentimentos registrado por palavras, poesias, prosas. Uma espécie de comunicação emocional que só pode ser dita de alma para alma, como se fosse uma confissão.
Infelizmente nem todas as pessoas “radares “ ou “captadores” conseguem extravasar as suas comportas e vão enrijecendo, adoecendo por não se saberem capazes de experimentarem a si mesmas. A face oculta de cada um de nós esconde um mundo que se não entendido pode virar um transtorno psicótico, ou uma patologia.
Se eu posso me olhar defronte o espelho, se eu posso exorcizar meus fantasmas, é claro que qualquer pessoa munida de boa vontade também pode, entretanto é preciso se despir dos preconceitos e aprender a se enxergar por dentro, e a única maneira de se enxergar por dentro é deixar fluírem os pensamentos, aprendendo a pensar e dar ouvido ao que pede o coração.
O corpo costuma acusar a necessidade de parar da mesma forma que a alma e o coração costumam dar sinais de que precisam se comunicar através dos sentimentos.




Parindo palavras

E aí que o meu poema "Gestação" não foi muito bem digerido, questão de título, pouco se quer gestar hoje em dia, nem palavras, o imediatismo de parir, faz com que se bote pra fora das entranhas cada palavra e cada impaciência, o que também de todo não é ruim, mas gestar palavras, embalar no ventre do peito é tão gostoso; porque o parto não sai laborioso; uma vez que já foi mimado e acalentado.
Mas não se deve confundir a gestação de palavras com o "Infarto", porque às vezes pensamos estar gestando palavras, estamos gestando sentimentos, que poderiam nascer em forma de palavras, e por guardar essas palavras enfartamos, simplesmente, e entramos no inferno dos gestos abrutalhados, das palavras azedas, ou pior engolimos as nossas próprias palavras e o peito não agüenta tanta pressão, e enfartarmos inexoravelmente.
Antes que enfarta e perca de vez o chão, ou o pouco de razão que me resta, aceito placidamente a minha gravidez de palavras, embalo-as com cânticos mansos ou com marchas, dependendo de quanto elas me pesarem no peito; acaricio-as para que se sintam em mim confortáveis e num átimo de insensatez ou volúpia, vou parindo uma a uma, lambendo o gosto da placenta, para que venham limpas ao mundo, fortes e atrevidas como pede a vida que elas carregam.
Eu me descubro grávida todos os dias de uma multidão de sentimentos e emoções que nem sempre nascem em palavras...e quando me percebo enfartar; solto minhas crias no mundo, e enquanto elas passeiam eu mimo-as de longe; lembrando de como nasceram.
Embora poético, não quero morrer enfartada de palavras, quero ter sim muitas passagens pela UTI, já que a minha urgência pede socorro imediato, só assim enquanto reclusa na sala de espera da vida, eu possa me dedicar exclusivamente às minhas gestações e partos de amor puro e exagerado às palavras que se aninham dentro de mim.


sábado, 27 de junho de 2009

Insigth ( cont)


Dentro da minha prosa vai um mundo de sentimentos que jorram; seja pelo meu espírito inquieto, seja pelo meu refletir incessante sobre as pessoas, minhas relações para com elas ou minha e delas para com o mundo. O meu sofrer nas letras nem sempre representa só o meu coração, algumas vezes é a interiorização de emoções que sinto ao meu redor, ou imagino em mim.
Para os que têm como eu, a veia entupida pelas letras, a sensibilidade na pele e a cabeça em constante ebulição pelos pensamentos, a inspiração insiste em dotar com criações, que para alguns pode parecer incompreensíveis, mas que para outros tantos que o sentem e não conseguem exteriorizar, nessas criações se enxerguem pura e simplesmente.
O corpo só vai onde a cabeça comandar para ir, o mesmo não acontece com os pensamentos que são livres e nunca cessam.
O fascínio do pensar, de refletir está justamente na relação que se pode ter com as palavras e as letras; que pode ser para espelhar sonhos intangíveis ou simplesmente colocar no papel verdades advindas da observação constante e criteriosa.



O laboratório da prosa
Angélica T. Almstadter

O mundo da minha prosa vai além das palavras. O que parece um
quebra-cabeças bem montado, ou um intrincado bem organizado de palavras escolhidas com cuidado é também um registro de emoções e sensações variadas. Jamais uma prosa é simplesmente um conjunto de palavras, dentro desse contexto de sentimentos explicitados há uma dose considerável de fantasias, que se misturam a cheiros imagináveis, delírios e devaneios.
Algumas pessoas nem tem a sensibilidade para perceber que dentro de uma prosa, as vezes desconexas ou desprovidas de razão, salta aos olhos sentimentos tão vivos e tão palpitantes, muitos até desconhecidos por uma porção de pessoas, por que incluem vivência, experimentação. Dizer que o poeta é um fingidor e que finge tão bem, que acredita no que vive,
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
como disse Pessoa, é uma verdade de que não se pode fugir, entretanto a alma do poeta é por si só um grande laboratório para sua escrita, assim ele só será verdadeiro se viver o que escreve, ainda que seja solitário nessa vivência.
Ou se seja, é preciso experimentar todas as sensações e emoções, mesmo empiricamente, para se poder traduzi-las em palavras. Ninguém domina na escrita o que não conhece profundamente, ou antes, ninguém finge tão bem se não conhecer na própria carne a dor do corte. Parece fácil falar de sentimentos e coisas íntimas quando se tem as palavras à mão, mas palavras ditas sem sentimentos são vazias e sem o menor valor, eu não saberia dispor em linhas ou entrelinhas palavras simplesmente ocas, penso em cada verbete que uso como um veículo para carregar sentido para o conjunto que componho. O meu mundo é pleno de sentidos, sensações provadas ou à serem experimentadas, emoções, e uma carga enorme de paixão. Minhas mãos podem eventualmente estarem vazias, o meu espaço físico pode ser solitário, mas o meu mundo interno é complexo e extremamente povoado.
Há quem diga que expor as sensações todas de forma tão nua, é uma forma narcisista de se colocar no mundo ou um apelo de carência, eu não diria que concordo ou discordo, mas que tenho sim outra visão; penso e acredito na troca de energia entre pessoas que comungam de ideais e idéias, e partindo dessa premissa, essa exposição vira um grande balão de ensaio, onde todos os envolvidos doam e recebem, crescem todos emocionalmente, espiritualmente e enriquecem todos intelectualmente.
Por pensar dessa forma e por pensar num mundo onde a harmonia das palavras e de sentimentos é fundamental para a união das pessoas e para o autoconhecimento, é que decidi soltar a minha voz, sem me perturbar com o ruído que ela possa causar. Enquanto cá dentro de mim, há uma revolução interminável, e uma imensa vontade de experimentar a vida em toda a sua essência, eu me permito ouvir os meus barulhos; esses demonstram a vida aprisionada cá dentro querendo explodir em muitas lavras.



O mistério que há dentro de cada um de nós é o que nos torna fascinantes. Por mais que se possam espionar as pessoas, aonde vão e como se comportam: seus pensamentos são invioláveis e nesse grande mistério é que reside, a beleza do descobrir o outro, a incerteza do futuro.
O dia de amanhã está por ser escrito e cada um terá a sua parte na construção desse amanhã; alguns contribuirão com gestos, outros com palavras, outros com suas invenções, criações e até com seus erros e dessa experimentação é que se faz a vida.
Dentro de cada pessoa se move uma história paralela a que se move do lado de fora, nos gestos e na experimentação da vida, que quase não vem à tona. A pessoa que somos interiormente quase nunca é conhecida pelos outros e muitas vezes nem por nós mesmos.
Poucas são as pessoas que se interiorizam a ponto de se questionarem a fim de se conhecerem mais intimamente, falta tempo e sobra falta de interesse e até muito medo. Medo do que se possa encontrar nesse desconhecido eu que temos lá no fundo. É muito mais fácil lidar com o eu que levamos para o mundo, já que esse eu é o que sabe vestir máscaras, sabe mentir e sabe representar.
Brincamos de esconde-esconde para fazer da vida alguma coisa muito mais agradável do que é realmente e quando somos surpreendidos com o peso da realidade o resultado quase sempre é desastroso; adoecemos. Entretanto não se pode viver como num conto de fadas se escondendo da realidade; ninguém agüenta viver de realidade 24 horas, como não se pode viver 24 horas de sonhos. Mas quem saberia o limite considerado equilibrado, já que cada um tem necessidades diferentes e constituição física também diferente.
Não há regra para se viver no tocante à experimentação emocional, nem poderia, o que há são pessoas mais ligadas às coisas da matéria e pessoas com maior intimidade com as coisas do espírito, o que não quer dizer que uma e outra não possa ter experiência com as duas coisas. A cada um, segundo a sua sensibilidade.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Insigth (cont)


Acreditar em Deus é inerente ao meu ser, mas ficam muitas perguntas sem respostas, e é para essas perguntas que me vejo olhando para o céu, para a natureza e para cada pessoa vivente que atravessa o meu caminho.
A introspecção reflexiva é um benefício de auto-ajuda poderoso, mas que nem todos praticam por medo do que vão encontrar dentro desse espelho que põe a nu tudo que se pretende esconder até de si próprio. É doloroso reconhecer falhas no nosso caráter, identificar quando temos pensamentos mesquinhos, quando bradamos contra a mentira e escorregamos nas nossas. O homem teme o julgamento do seu semelhante e na maioria do tempo vive de aparências, na verdade vestimos máscaras adequadas para cada situação que enfrentamos, seja por polidez ou por medo de mostrar exatamente como nosso eu realmente é.
Nada de errado no vestir máscaras o perigoso é quando essas máscaras não são só para os outros, e sim para nós mesmos. Quando isso acontece nos perdemos do nosso eu para vivermos um personagem, ou outras pessoas.
Cada um de nós é uma usina perfeita e diferente, imagine um mundo povoado por mais de dois bilhões de pessoas e nenhuma é igual a você! Não é fantástico? Eu disse usina porque no meu entender somos máquinas carregadas de muita energia para mover o mundo, e o combustível dessa máquina que somos, são as emoções, desejos e sentimentos; porque são eles que nos movem para todo e qualquer empreendimento.
Uma usina é um arsenal de energia e se não bem cuidada pode implodir, como um ser humano poderá, não no sentido literal, claro.
Mas mesmo que não tenhamos nesse mundo ninguém parecido conosco nem física nem interiormente, há padrões comportamentais, sociais, culturais, regionais e outros que acabam por traçar perfis para as semelhanças e para as diferenças.
Talvez para ficar mais fácil de entender como os iguais se comportam: rotulamos, ou para fugir dos diferentes.
Rotular é uma invenção do homem.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Insigh

Viajo quando reflito; nesse momento é como se tudo parasse e eu entrasse num mundo só meu onde tudo pode ser perfeito ou explicável. É claro que nem sempre o pensar me leva a coisas inefáveis, as perguntas que me faço são muitas e minhas buscas em lhes perceber as respostas, outras tantas. Minha cabeça é um mundo de interrogações, de dilemas, de projetos e explicações às coisas que percebo ao meu redor e tomada também de um turbilhão de sentimentos e emoções que experimento e procuro entender, em mim e nas outras pessoas.
Talvez possa parecer um hábito, ou não sei se é porque faz parte da minha natureza o observar as pessoas e seus comportamentos; eu tento desesperadamente compreender suas atitudes, seu gestual e maneirismos que para minha cabeça tudo tem sempre uma explicação, ainda que não seja a que se convenciona. Eu me pego estudando as pessoas numa fila, no supermercado, na igreja, esteja ela conversando comigo ou distraída nos seus atos, sem sequer me notar por perto. Não que eu procure por isso, mas, muito mais do que averiguar a vida do outro; é como se buscasse em cada uma delas uma resposta para as minhas indagações sobre a vida, o mundo ou eu mesma.
Não estou muito certa de que saiba realmente quem sou, embora tenha aprendido muito mais sobre mim mesma depois de ter feito terapia e pela observação constante do meu comportamento, das minhas vocações e da minha comparação com o outrem, certo é de que sempre me sinto uma estrangeira dentro do meu circulo familiar e muitas vezes uma incógnita para mim mesma.
Não devem existir palavras eficazes ou suficientemente capazes para explicarem o que está no íntimo de cada um. Há circunstâncias que um olhar, um gesto diz mais que palavras, mas ao dizer isso caio no lugar comum, entretanto se paro para pensar que palavras poderiam exprimir o sentimento dessa hora, concluo que não encontro palavra alguma que alcance a dimensão para o gesto ou olhar experimentado nessa ocasião. Isso me aflige, porque isso me deixa claro que da mesma forma há coisas que quero registrar com palavras para compartilhar, e não as encontro.
Minha intimidade com tantos sentimentos não me deixa confusa, sei exatamente o que sinto em cada situação vivida ou imaginada, o que não sei é traduzir em palavras. Uma vez alguém me disse que não valia à pena querer entrar tanto dentro de mim mesma, poderia enlouquecer, confesso que temi e cheguei mesmo a acreditar podia haver um fundo de razão nessa perspectiva, porém pensei que se não fizesse isso de maneira compulsiva e desastrada não correria riscos e voltei a me perguntar e investigar sempre mais e mais sobre tudo que me incomoda.
Como disse, à medida que fui tomando conhecimento e vivência dos sentimentos e emoções, as perguntas foram surgindo e assim o pensar e investigar acabou por virar rotina; aqui a rotina não cabe como uma coisa cansativa e sim como uma coisa que se faz constantemente sem que isso seja programado, portanto, sem ser chato ou cansativo.
A rotina nesse caso é quase um estudo profundo e auto-didático, ainda que não tenha valor acadêmico porque é só a minha visão, meu sentir do mundo e das pessoas com seus dramas, verdades, mentiras e emoções. A percepção do outro é discreta e constante como um ato de amor e respeito. Ao entender o outro nas suas misérias ou nas suas alegrias eu posso aprender a conviver com elas, mas não é só em proveito próprio que procuro entender, é para descobrir o sentido real de cada uma dessas vivências e com isso o diferencial entre uma e outra pessoa.

domingo, 14 de junho de 2009

Deselegância a mostra

Lá estava o protótipo do brasileiro; simplório, vestido sem luxo e falando alto ao celular para que todos ouvissem seu linguajar desarranjado, de palavras mal colocadas dentro das frases num enfático sotaque. Parecia alheio ao que acontecia ao seu redor e nem se dava conta da modulação da voz, muito provavelmente era o seu tom habitual em casa.

Subiu a rua falando e gesticulando até se sentar no primeiro banco, como que para organizar as idéias ao falar.

Passei por ele, olhando meio de rabo de olho, para que não me notasse a atenção disfarçada pelos óculos de sol, segui padaria adentro ouvindo o seu farfalhar grosseiro demonstrando intimidade com o ouvinte do outro lado da linha. Pensei em quantas vezes vira essa cena em outros cenários e me dei conta que não estamos preparados para a delicadeza de ser elegante. É sério!

Uma parcela pequena de pessoas consegue falar ao celular sem que ao seu redor as outras pessoas testemunhem sua conversa, é como ouvir no ônibus o relato da mulher sobre como sua irmã lhe passou a perna na venda da casa que era herança dos pais e de como ela generosamente perdoou por ser evangélica.

Buscando na memória ainda pude me lembrar dos risos frouxos e dos modos espalhafatosos de alguns pares na rua, de uma determinada pessoa dita da alta num churrasco outro dia; a mesma se exibia macaqueando entre os cantores e dava gritinhos ululantes que chamava a atenção de todos, não era só diversão, mas os pares acostumados riam e zombavam da sua performance.

Por mais que tente separar um comportamento do outro, não consigo, é óbvio que a falta de senso mostra que não há limites entre o ridículo e o mal educado.

A circulação das pessoas de todas as camadas por todo lado mostra a imensa massa de pessoas deselegantes que somos, no falar, no agir, no estar e até no pensar!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Um mundo doente...


Até há bem pouco tempo criminalidade era associada a pobreza, assim como a favela era só um lugar de excluídos,  que em sua grande maioria eram trabalhadores e honestos. Onde será que isso tudo mudou?
É sabido que bandido tinha sempre uma aparência que o denunciava, e por medo a gente sempre se desviava dos caminhos onde pudesse encontrá-los.
O que dizer de jovens de boa condição, classe média que roubam por farra, agridem por prazer? Universitários, jovens simplesmente, que andam em busca de aventuras e prazeres?!
É cruel dizer que os miseráveis roubam, matam e violentam pela necessidade!
Há uma grande diferença entre ser miserável e ser bandido, entre ser pobre e ser desonesto.
Num mundo onde não há mais trancas e tudo ficou tão escancaradamente fácil, sem os pais rígidos controlando os horários, as saídas, sem o compromisso de voltar cedo para casa. Quando não há mais pais andando de um lado para o outro esperando seus rebentos voltarem das jornadas escolares ou noitadas com os amigos nas baladas  e festinhas. Num mundo onde os pais têm seu mundo à parte e mal tem tempo de falarem com os filhos, a não ser através da empregada, do terapeuta, do professor ou das máquinas.
Não sobrou espaço nem na mesa dividida raramente.
Não há distinção entre pobres ou ricos, há uma geração inteira doente por falta de afeto, de laço familiar.
Há um mundo de facilidades para se cometer delitos,  que começam pequenos e crescem impunes pela falta de bom exemplos e até pelo tapinha proibido para não "causar traumas".
Temos uma geração recém-saída da luta pela liberdade, do amor colorido, da revolução sexual, dos direitos divididos entre os sexos convivendo com uma geração carente de amor, afeto e uma família para aportar.
O que se pode esperar de um mundo onde o homem se rendeu à escravidão das máquinas e esqueceu seus sentimentos e emoções? Onde envelhecer é inadmissível, onde vale mais "ter "do que "ser"; repare quantas pessoas estão disponíveis ao seu redor. Quanto mais ela tem, mas indisponível ela fica, porque mergulha num mundo de solidão em busca dos prazeres das máquinas ou do ter cada vez mais.
A família, célula mater já não tem mais o mesmo aconchego, não se sabe até onde contar com ela, o pai vive no seu mundo, correndo atrás do vil metal que parece nunca chegar para as despesas. A mãe acumula afazeres para ter direito a carreira, para ajudar nas despesas da casa e da sua própria ambição de permanecer jovem e desejável.
O mercado de trabalho ficou tão competitivo que levou a disputa para dentro do lar e nessa guerra entre sexos; homens e mulheres vêm se descartando tão rapidamente que filhos de um casamento se mesclam com os filhos de outros casamentos, gerando entre eles uma enorme falta de paternidade.
O último reduto intocado dos jovens  e adolescentes, que era o lar, a família, se desagregou, se distanciou tanto do seu papel que está jogando no mundo pessoas vazias e solitárias. A busca de consumo ficou tão contundente que nada mais parece preencher esse oco que cada um traz dentro de si.
Por conta do famigerado consumismo de coisas e pessoas o homem parece que perdeu o poder de sonhar. A ânsia do ter imediato e do derrame cada vez maior de tecnologia e facilidades do mundo moderno tem feito do homem um mero compulsivo do consumo.
Que falta faz voltar para casa e ter uma família unida, um centralizador, um parâmetro que sirva de divisor de águas.
Quanta falta faz o abraço carinhoso de uma mãe, seus sábios conselhos e sua presença atuante dentro de casa.
Mas o mundo precisa de progresso, as pessoas carecem de seus espaços, de suas profissões, as máquinas precisam evoluir para ajudarem (será??) os homens.
Onde então encontrar um lugar seguro para as ilusões? Para os sonhos da juventude, para os receios?
Como ter um tempo para sonhar, e simplesmente sonhar, sem culpas num mundo que despreza os laços e teme o carinho?
Como administrar os medos? A que nos socorrer nos momentos de angústia?
Será que vão inventar um jeito de tornar o jovem em adulto sem medos?
Como crescer sem limites, sem respeito? Como aprender a conviver com outro sem invadir, se não existe a censura própria de cada um, que não é repressão e sim o respeito pelo alheio?
Como conviver num mundo sem valores e pobre de sentimentos.
Como será o futuro dessa geração doente de falta de amor, afeto e noção de limites?
É preciso parar de olhar só para os nossos umbigos e olhar cada pessoa do nosso lado como ser humano com sentimentos, dores, alegrias e experiências.
É preciso desligar-se um pouco das máquinas para sentir as pessoas, seus choros e medos.
É preciso abraçar nossos filhos e dizer sem vergonha: Eu te amo!
É preciso semear amor, dar exemplos  e criar laços outra vez.