sábado, 27 de junho de 2009

Insigth ( cont)


Dentro da minha prosa vai um mundo de sentimentos que jorram; seja pelo meu espírito inquieto, seja pelo meu refletir incessante sobre as pessoas, minhas relações para com elas ou minha e delas para com o mundo. O meu sofrer nas letras nem sempre representa só o meu coração, algumas vezes é a interiorização de emoções que sinto ao meu redor, ou imagino em mim.
Para os que têm como eu, a veia entupida pelas letras, a sensibilidade na pele e a cabeça em constante ebulição pelos pensamentos, a inspiração insiste em dotar com criações, que para alguns pode parecer incompreensíveis, mas que para outros tantos que o sentem e não conseguem exteriorizar, nessas criações se enxerguem pura e simplesmente.
O corpo só vai onde a cabeça comandar para ir, o mesmo não acontece com os pensamentos que são livres e nunca cessam.
O fascínio do pensar, de refletir está justamente na relação que se pode ter com as palavras e as letras; que pode ser para espelhar sonhos intangíveis ou simplesmente colocar no papel verdades advindas da observação constante e criteriosa.



O laboratório da prosa
Angélica T. Almstadter

O mundo da minha prosa vai além das palavras. O que parece um
quebra-cabeças bem montado, ou um intrincado bem organizado de palavras escolhidas com cuidado é também um registro de emoções e sensações variadas. Jamais uma prosa é simplesmente um conjunto de palavras, dentro desse contexto de sentimentos explicitados há uma dose considerável de fantasias, que se misturam a cheiros imagináveis, delírios e devaneios.
Algumas pessoas nem tem a sensibilidade para perceber que dentro de uma prosa, as vezes desconexas ou desprovidas de razão, salta aos olhos sentimentos tão vivos e tão palpitantes, muitos até desconhecidos por uma porção de pessoas, por que incluem vivência, experimentação. Dizer que o poeta é um fingidor e que finge tão bem, que acredita no que vive,
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
como disse Pessoa, é uma verdade de que não se pode fugir, entretanto a alma do poeta é por si só um grande laboratório para sua escrita, assim ele só será verdadeiro se viver o que escreve, ainda que seja solitário nessa vivência.
Ou se seja, é preciso experimentar todas as sensações e emoções, mesmo empiricamente, para se poder traduzi-las em palavras. Ninguém domina na escrita o que não conhece profundamente, ou antes, ninguém finge tão bem se não conhecer na própria carne a dor do corte. Parece fácil falar de sentimentos e coisas íntimas quando se tem as palavras à mão, mas palavras ditas sem sentimentos são vazias e sem o menor valor, eu não saberia dispor em linhas ou entrelinhas palavras simplesmente ocas, penso em cada verbete que uso como um veículo para carregar sentido para o conjunto que componho. O meu mundo é pleno de sentidos, sensações provadas ou à serem experimentadas, emoções, e uma carga enorme de paixão. Minhas mãos podem eventualmente estarem vazias, o meu espaço físico pode ser solitário, mas o meu mundo interno é complexo e extremamente povoado.
Há quem diga que expor as sensações todas de forma tão nua, é uma forma narcisista de se colocar no mundo ou um apelo de carência, eu não diria que concordo ou discordo, mas que tenho sim outra visão; penso e acredito na troca de energia entre pessoas que comungam de ideais e idéias, e partindo dessa premissa, essa exposição vira um grande balão de ensaio, onde todos os envolvidos doam e recebem, crescem todos emocionalmente, espiritualmente e enriquecem todos intelectualmente.
Por pensar dessa forma e por pensar num mundo onde a harmonia das palavras e de sentimentos é fundamental para a união das pessoas e para o autoconhecimento, é que decidi soltar a minha voz, sem me perturbar com o ruído que ela possa causar. Enquanto cá dentro de mim, há uma revolução interminável, e uma imensa vontade de experimentar a vida em toda a sua essência, eu me permito ouvir os meus barulhos; esses demonstram a vida aprisionada cá dentro querendo explodir em muitas lavras.



O mistério que há dentro de cada um de nós é o que nos torna fascinantes. Por mais que se possam espionar as pessoas, aonde vão e como se comportam: seus pensamentos são invioláveis e nesse grande mistério é que reside, a beleza do descobrir o outro, a incerteza do futuro.
O dia de amanhã está por ser escrito e cada um terá a sua parte na construção desse amanhã; alguns contribuirão com gestos, outros com palavras, outros com suas invenções, criações e até com seus erros e dessa experimentação é que se faz a vida.
Dentro de cada pessoa se move uma história paralela a que se move do lado de fora, nos gestos e na experimentação da vida, que quase não vem à tona. A pessoa que somos interiormente quase nunca é conhecida pelos outros e muitas vezes nem por nós mesmos.
Poucas são as pessoas que se interiorizam a ponto de se questionarem a fim de se conhecerem mais intimamente, falta tempo e sobra falta de interesse e até muito medo. Medo do que se possa encontrar nesse desconhecido eu que temos lá no fundo. É muito mais fácil lidar com o eu que levamos para o mundo, já que esse eu é o que sabe vestir máscaras, sabe mentir e sabe representar.
Brincamos de esconde-esconde para fazer da vida alguma coisa muito mais agradável do que é realmente e quando somos surpreendidos com o peso da realidade o resultado quase sempre é desastroso; adoecemos. Entretanto não se pode viver como num conto de fadas se escondendo da realidade; ninguém agüenta viver de realidade 24 horas, como não se pode viver 24 horas de sonhos. Mas quem saberia o limite considerado equilibrado, já que cada um tem necessidades diferentes e constituição física também diferente.
Não há regra para se viver no tocante à experimentação emocional, nem poderia, o que há são pessoas mais ligadas às coisas da matéria e pessoas com maior intimidade com as coisas do espírito, o que não quer dizer que uma e outra não possa ter experiência com as duas coisas. A cada um, segundo a sua sensibilidade.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Insigth (cont)


Acreditar em Deus é inerente ao meu ser, mas ficam muitas perguntas sem respostas, e é para essas perguntas que me vejo olhando para o céu, para a natureza e para cada pessoa vivente que atravessa o meu caminho.
A introspecção reflexiva é um benefício de auto-ajuda poderoso, mas que nem todos praticam por medo do que vão encontrar dentro desse espelho que põe a nu tudo que se pretende esconder até de si próprio. É doloroso reconhecer falhas no nosso caráter, identificar quando temos pensamentos mesquinhos, quando bradamos contra a mentira e escorregamos nas nossas. O homem teme o julgamento do seu semelhante e na maioria do tempo vive de aparências, na verdade vestimos máscaras adequadas para cada situação que enfrentamos, seja por polidez ou por medo de mostrar exatamente como nosso eu realmente é.
Nada de errado no vestir máscaras o perigoso é quando essas máscaras não são só para os outros, e sim para nós mesmos. Quando isso acontece nos perdemos do nosso eu para vivermos um personagem, ou outras pessoas.
Cada um de nós é uma usina perfeita e diferente, imagine um mundo povoado por mais de dois bilhões de pessoas e nenhuma é igual a você! Não é fantástico? Eu disse usina porque no meu entender somos máquinas carregadas de muita energia para mover o mundo, e o combustível dessa máquina que somos, são as emoções, desejos e sentimentos; porque são eles que nos movem para todo e qualquer empreendimento.
Uma usina é um arsenal de energia e se não bem cuidada pode implodir, como um ser humano poderá, não no sentido literal, claro.
Mas mesmo que não tenhamos nesse mundo ninguém parecido conosco nem física nem interiormente, há padrões comportamentais, sociais, culturais, regionais e outros que acabam por traçar perfis para as semelhanças e para as diferenças.
Talvez para ficar mais fácil de entender como os iguais se comportam: rotulamos, ou para fugir dos diferentes.
Rotular é uma invenção do homem.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Insigh

Viajo quando reflito; nesse momento é como se tudo parasse e eu entrasse num mundo só meu onde tudo pode ser perfeito ou explicável. É claro que nem sempre o pensar me leva a coisas inefáveis, as perguntas que me faço são muitas e minhas buscas em lhes perceber as respostas, outras tantas. Minha cabeça é um mundo de interrogações, de dilemas, de projetos e explicações às coisas que percebo ao meu redor e tomada também de um turbilhão de sentimentos e emoções que experimento e procuro entender, em mim e nas outras pessoas.
Talvez possa parecer um hábito, ou não sei se é porque faz parte da minha natureza o observar as pessoas e seus comportamentos; eu tento desesperadamente compreender suas atitudes, seu gestual e maneirismos que para minha cabeça tudo tem sempre uma explicação, ainda que não seja a que se convenciona. Eu me pego estudando as pessoas numa fila, no supermercado, na igreja, esteja ela conversando comigo ou distraída nos seus atos, sem sequer me notar por perto. Não que eu procure por isso, mas, muito mais do que averiguar a vida do outro; é como se buscasse em cada uma delas uma resposta para as minhas indagações sobre a vida, o mundo ou eu mesma.
Não estou muito certa de que saiba realmente quem sou, embora tenha aprendido muito mais sobre mim mesma depois de ter feito terapia e pela observação constante do meu comportamento, das minhas vocações e da minha comparação com o outrem, certo é de que sempre me sinto uma estrangeira dentro do meu circulo familiar e muitas vezes uma incógnita para mim mesma.
Não devem existir palavras eficazes ou suficientemente capazes para explicarem o que está no íntimo de cada um. Há circunstâncias que um olhar, um gesto diz mais que palavras, mas ao dizer isso caio no lugar comum, entretanto se paro para pensar que palavras poderiam exprimir o sentimento dessa hora, concluo que não encontro palavra alguma que alcance a dimensão para o gesto ou olhar experimentado nessa ocasião. Isso me aflige, porque isso me deixa claro que da mesma forma há coisas que quero registrar com palavras para compartilhar, e não as encontro.
Minha intimidade com tantos sentimentos não me deixa confusa, sei exatamente o que sinto em cada situação vivida ou imaginada, o que não sei é traduzir em palavras. Uma vez alguém me disse que não valia à pena querer entrar tanto dentro de mim mesma, poderia enlouquecer, confesso que temi e cheguei mesmo a acreditar podia haver um fundo de razão nessa perspectiva, porém pensei que se não fizesse isso de maneira compulsiva e desastrada não correria riscos e voltei a me perguntar e investigar sempre mais e mais sobre tudo que me incomoda.
Como disse, à medida que fui tomando conhecimento e vivência dos sentimentos e emoções, as perguntas foram surgindo e assim o pensar e investigar acabou por virar rotina; aqui a rotina não cabe como uma coisa cansativa e sim como uma coisa que se faz constantemente sem que isso seja programado, portanto, sem ser chato ou cansativo.
A rotina nesse caso é quase um estudo profundo e auto-didático, ainda que não tenha valor acadêmico porque é só a minha visão, meu sentir do mundo e das pessoas com seus dramas, verdades, mentiras e emoções. A percepção do outro é discreta e constante como um ato de amor e respeito. Ao entender o outro nas suas misérias ou nas suas alegrias eu posso aprender a conviver com elas, mas não é só em proveito próprio que procuro entender, é para descobrir o sentido real de cada uma dessas vivências e com isso o diferencial entre uma e outra pessoa.

domingo, 14 de junho de 2009

Deselegância a mostra

Lá estava o protótipo do brasileiro; simplório, vestido sem luxo e falando alto ao celular para que todos ouvissem seu linguajar desarranjado, de palavras mal colocadas dentro das frases num enfático sotaque. Parecia alheio ao que acontecia ao seu redor e nem se dava conta da modulação da voz, muito provavelmente era o seu tom habitual em casa.

Subiu a rua falando e gesticulando até se sentar no primeiro banco, como que para organizar as idéias ao falar.

Passei por ele, olhando meio de rabo de olho, para que não me notasse a atenção disfarçada pelos óculos de sol, segui padaria adentro ouvindo o seu farfalhar grosseiro demonstrando intimidade com o ouvinte do outro lado da linha. Pensei em quantas vezes vira essa cena em outros cenários e me dei conta que não estamos preparados para a delicadeza de ser elegante. É sério!

Uma parcela pequena de pessoas consegue falar ao celular sem que ao seu redor as outras pessoas testemunhem sua conversa, é como ouvir no ônibus o relato da mulher sobre como sua irmã lhe passou a perna na venda da casa que era herança dos pais e de como ela generosamente perdoou por ser evangélica.

Buscando na memória ainda pude me lembrar dos risos frouxos e dos modos espalhafatosos de alguns pares na rua, de uma determinada pessoa dita da alta num churrasco outro dia; a mesma se exibia macaqueando entre os cantores e dava gritinhos ululantes que chamava a atenção de todos, não era só diversão, mas os pares acostumados riam e zombavam da sua performance.

Por mais que tente separar um comportamento do outro, não consigo, é óbvio que a falta de senso mostra que não há limites entre o ridículo e o mal educado.

A circulação das pessoas de todas as camadas por todo lado mostra a imensa massa de pessoas deselegantes que somos, no falar, no agir, no estar e até no pensar!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Um mundo doente...


Até há bem pouco tempo criminalidade era associada a pobreza, assim como a favela era só um lugar de excluídos,  que em sua grande maioria eram trabalhadores e honestos. Onde será que isso tudo mudou?
É sabido que bandido tinha sempre uma aparência que o denunciava, e por medo a gente sempre se desviava dos caminhos onde pudesse encontrá-los.
O que dizer de jovens de boa condição, classe média que roubam por farra, agridem por prazer? Universitários, jovens simplesmente, que andam em busca de aventuras e prazeres?!
É cruel dizer que os miseráveis roubam, matam e violentam pela necessidade!
Há uma grande diferença entre ser miserável e ser bandido, entre ser pobre e ser desonesto.
Num mundo onde não há mais trancas e tudo ficou tão escancaradamente fácil, sem os pais rígidos controlando os horários, as saídas, sem o compromisso de voltar cedo para casa. Quando não há mais pais andando de um lado para o outro esperando seus rebentos voltarem das jornadas escolares ou noitadas com os amigos nas baladas  e festinhas. Num mundo onde os pais têm seu mundo à parte e mal tem tempo de falarem com os filhos, a não ser através da empregada, do terapeuta, do professor ou das máquinas.
Não sobrou espaço nem na mesa dividida raramente.
Não há distinção entre pobres ou ricos, há uma geração inteira doente por falta de afeto, de laço familiar.
Há um mundo de facilidades para se cometer delitos,  que começam pequenos e crescem impunes pela falta de bom exemplos e até pelo tapinha proibido para não "causar traumas".
Temos uma geração recém-saída da luta pela liberdade, do amor colorido, da revolução sexual, dos direitos divididos entre os sexos convivendo com uma geração carente de amor, afeto e uma família para aportar.
O que se pode esperar de um mundo onde o homem se rendeu à escravidão das máquinas e esqueceu seus sentimentos e emoções? Onde envelhecer é inadmissível, onde vale mais "ter "do que "ser"; repare quantas pessoas estão disponíveis ao seu redor. Quanto mais ela tem, mas indisponível ela fica, porque mergulha num mundo de solidão em busca dos prazeres das máquinas ou do ter cada vez mais.
A família, célula mater já não tem mais o mesmo aconchego, não se sabe até onde contar com ela, o pai vive no seu mundo, correndo atrás do vil metal que parece nunca chegar para as despesas. A mãe acumula afazeres para ter direito a carreira, para ajudar nas despesas da casa e da sua própria ambição de permanecer jovem e desejável.
O mercado de trabalho ficou tão competitivo que levou a disputa para dentro do lar e nessa guerra entre sexos; homens e mulheres vêm se descartando tão rapidamente que filhos de um casamento se mesclam com os filhos de outros casamentos, gerando entre eles uma enorme falta de paternidade.
O último reduto intocado dos jovens  e adolescentes, que era o lar, a família, se desagregou, se distanciou tanto do seu papel que está jogando no mundo pessoas vazias e solitárias. A busca de consumo ficou tão contundente que nada mais parece preencher esse oco que cada um traz dentro de si.
Por conta do famigerado consumismo de coisas e pessoas o homem parece que perdeu o poder de sonhar. A ânsia do ter imediato e do derrame cada vez maior de tecnologia e facilidades do mundo moderno tem feito do homem um mero compulsivo do consumo.
Que falta faz voltar para casa e ter uma família unida, um centralizador, um parâmetro que sirva de divisor de águas.
Quanta falta faz o abraço carinhoso de uma mãe, seus sábios conselhos e sua presença atuante dentro de casa.
Mas o mundo precisa de progresso, as pessoas carecem de seus espaços, de suas profissões, as máquinas precisam evoluir para ajudarem (será??) os homens.
Onde então encontrar um lugar seguro para as ilusões? Para os sonhos da juventude, para os receios?
Como ter um tempo para sonhar, e simplesmente sonhar, sem culpas num mundo que despreza os laços e teme o carinho?
Como administrar os medos? A que nos socorrer nos momentos de angústia?
Será que vão inventar um jeito de tornar o jovem em adulto sem medos?
Como crescer sem limites, sem respeito? Como aprender a conviver com outro sem invadir, se não existe a censura própria de cada um, que não é repressão e sim o respeito pelo alheio?
Como conviver num mundo sem valores e pobre de sentimentos.
Como será o futuro dessa geração doente de falta de amor, afeto e noção de limites?
É preciso parar de olhar só para os nossos umbigos e olhar cada pessoa do nosso lado como ser humano com sentimentos, dores, alegrias e experiências.
É preciso desligar-se um pouco das máquinas para sentir as pessoas, seus choros e medos.
É preciso abraçar nossos filhos e dizer sem vergonha: Eu te amo!
É preciso semear amor, dar exemplos  e criar laços outra vez.

domingo, 7 de junho de 2009

Aldeia Global

( um equívoco com o papa...)

 A velocidade da informação, a globalização trazem ao mundo a possibilidade de se estar em cada canto do planeta; saber amiúde o que acontece em cada pedaço de chão. O homem ganha com essa grande "Aldeia Global", mas também perde. 
     A troca de conhecimento, as descobertas o avanço da tecnologia, das informações faz com que cada vez mais o homem se conecte às máquinas para fazer parte dessa loucura deliciosa que é o mundo moderno. Porém, dessa grande loucura e parafernália além dos ganhos advém as perdas, porque nem tudo é difundido como realmente é, e acaba sendo distorcido pelo caminho, seja pela pressa de se passar adiante, seja por falta de cuidado de quem divulga, ou até por maus intencionados, o que em alguns casos pode começar uma guerra.
    Um parágrafo solto de uma fala do século XV, criticando o profeta Maomé, citado pelo papa em uma palestra numa universidade agora dá margem a um desentendimento que se não for contido pode enveredar para uma nova guerra santa.
O profeta Maomé foi e ainda é um líder religioso que tem para os muçulmanos o mesmo peso que Jesus Cristo para a nação católica e V. S. Bento XVI jamais seria leviano em qualquer fala ou comentário que pudesse atacar os muçulmanos ou qualquer outro segmento religioso, por razões óbvias. Mas a quem interessaria fomentar uma guerra religiosa?
   Vender manchetes, atrair leitores, vender folhetins? Será que para estampar os mais importantes jornais, revistas e os portais da Internet vale postar uma chamada que não traduz a verdade na íntegra? Por que alguém pinçaria só uma frase de uma palestra inteira e distribuiria sem o cuidado de explicar que ela não é da autoria de quem a proferiu? Seria falta de tato ou maldade? Ou alguém quer ver o circo pegar fogo?
    A imprensa que tem um papel fantástico nessa imensa aldeia não pode ser a primeira a distribuir fragmentos de uma fala irresponsavelmente, criando clima de tensão, instilando o ódio num povo que já tem um histórico sofrido de lutas e cruzadas santas.
   Os quatro cantos do mundo estão unidos através de informações e muitos cabos, uma única palavra pode viajar para os lugares mais longínquos e provocar reações das mais diversas, e dessa possibilidade de se chegar a tantas nações das mais variadas culturas advém riscos de interpretações destorcidas com a mesma intensidade com que chegam
descobertas científicas, por exemplo.
   É possível que esse mundo vire uma imensa Aldeia Global, mantendo o respeito sem invasão de privacidade, sem destruir culturas ? Até onde vai a sede do homem em desvendar os mistérios da tecnologia para obter poder, para manipular e ter às mãos o controle do céu, água e ar?
   Como virar essa aldeia sem tirar a liberdade dos povos decidirem seus rumos, cumprirem seus rituais sem intromissão? Como vivermos todos em plena harmonia sem ferir as regras da boa convivência, sem a perda de identidade, de privacidade?
   Até onde o homem é capaz de chegar para conquistar?
   Até onde ele saberá se preservar como espécie?
   Até onde ele se interessará em manter outras espécies?
   Até quando o homem continuará olhando para seu próprio umbigo, sem se incomodar com o mundo à sua volta?
   Como o mundo ocidental recebe a rigidez dos orientais e como se comportam os orientais diante da liberdade dos povos ocidentais? Será que há uma aceitação sem reservas, sem preconceitos de ambos os lados? Ou antes, porque não pode haver o respeito mútuo?
   Num mundo onde a palavra corre em cabos cada vez mais velozes, onde as informações, embora transmitidas pela boca dos informantes, são instantaneamente transmitidas por satélites, é preciso muito mais seriedade e cuidado para que essas mesmas palavras não venham despertar mais ódios do que já existem milenarmente nesse nosso velho mundo.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Perda de identidade

 Pensamento formado a partir da entrevista de um pseudo-artista

Não há nada mais insensato do que a fachada criada para sustentar uma presença na sociedade, seja ela uma fachada pseudo-artística, pseudo-intelectual, ou qualquer outra como tantas que se vê no dia a dia.
O ser humano está tão desgastado e tão desacreditado na sua condição que para ter uma presença sustentável se apóia em conceitos vazios de seu conteúdo, usando uma fina e falsa camada para esconder o seu verdadeiro eu, pelo medo de não ser aceito.
É bem verdade que as diferenças sempre houveram e eram quase que majoritariamente sociais; com o aumento da população, a expansão do conhecimento as diferenças também foram se acentuando, porque a medida que o conhecimento avança as divisões dentro dele também procura novas vertentes.
Mais e mais é exigido de cada um  para que faça parte de um todo, de maneira que aquele que não se integra acabe sendo rotulado, discriminado ou até excluído.
É quase que obrigação ter conhecimentos em todas as áreas, saber estar e se perceber em cada situação, ter respostas na ponta da língua e principalmente receitas de bem viver, e ainda ser feliz e com um riso pronto para receber até as rasteiras comuns que se leva ao longo da vida.
Pois bem esse ser humano plastificado, idiotizado e super potente não existe, quando será que vamos perceber que somos só humanos?
A evolução está criando clãs, tribos onde as pessoas sentem a necessidade de se inserirem para sustentar a sua identidade, ainda que ela seja vazia de conteúdo.
Onde está a auto afirmação de cada um como pessoa com identidade única própria com a certeza de que não é um clone de outro, que nasceu de uma família e que tem sua meta, seus caminhos e suas escolhas sem que seja obrigado a se filiar a um nicho qualquer só para ter uma presença sustentável no planeta?
A tecnologia avança e o homem anda se perdendo de si para virar cardume e ter pensamento coletivo.