domingo, 26 de maio de 2013

O estupro da arte




O advento da tecnologia faz o mundo andar a galope e por mais que se queira é impossível acompanhar os acontecimentos e lançamentos; embora se possa sentir muitos dos seus efeitos.
Sem dúvida a tecnologia tem trazido inúmeros benefícios e graças a ela a nossa vida tem ficado mais fácil, mais bonita. Infelizmente ela não tem só o lado colorido, com ela vieram muitas formas de praticar crimes, muita coisa que a própria tecnologia ensina através de sua divulgação diária. Isso eu entendo como uma bola sem fim.
O que mais me pega nessa atualização tecnológica é o crime que se comete contra a arte.
A leitura de um livro é uma aventura insubstituível! Por mais que surjam facilidades outras para se contar uma história, elas não vão substituir a grande aventura de viajar pela imaginação enquanto vai se lendo um livro. Um bom livro consegue nos prender a atenção de tal forma que tudo ao redor desaparece e a gente entra literalmente na história e isso qualquer pessoa que viveu uma experiência de leitura pode confirmar.
O melhor de um livro é o que nós imaginamos; os lugares, os personagens e os acontecimentos só pelas linhas ali escritas. É um exercício de compreensão e até de criação como se fossemos co-criadores de um filme do que se lê, fazendo com que tudo adquira vida e a história se desenrole através dos nossos olhos.
Por mais surreal, imoral ou violento que seja o livro, a história está contida dentro de um livro, onde os personagens tem a cara que queremos com o nosso conteúdo de limite; cada um lê o que gosta e consegue compreender. Uma história por mais louca que possa ser é só uma história onde os personagens não tem os rostos do nosso dia a dia e até por isso fica mais fácil aceitar até coisas que não fazem parte da nossa realidade.
Aí é que acontece o que eu considero um crime: transformar em filme os livros. Muita gente que a princípio se choca com essa afirmação vai concordar se parar para pensar e lembrar de algum filme que assistiu após ter lido o livro. Além do filme sempre deixar a desejar fica uma sensação estranha quando aquele personagem do seu livro se torna um rosto conhecido, normalmente a gente se frustra porque a nossa imaginação é muito rica para fazer do livro um acontecimento que nem a melhor tecnologia pode substituir. Quando se trata então de livros clássicos é mais terrível ainda a frustração; é impossível retratar o que a nossa imaginação e o que a arte de um escritor cria em uma fita de 90 minutos.
Embora eu seja assumidamente uma consumidora de novelas, vejo-as como um modelo muito negativo para a sociedade. Imaginemos se as histórias sempre muito intensas das  novelas estivessem contidas em um livro ( até porque algumas delas são adaptações  de livros), certamente elas não teriam o efeito devastador na sociedade como acontece.
Quando os personagens não tem um rosto conhecido, quando eles não tem uma vida de carne e osso eles podem até ser terríveis, imorais, violentos, porque estão contidos dentro de um livro e dali não servem de exemplo como os mesmos personagens vestidos nos artistas globais, hollyudianos que são famosos e tem uma vida aqui fora como nós. Quando assim acontece parece que tudo contido ali naquela história fica mais próximo da nossa realidade e portanto mais fácil de se copiar. O personagem do livro faz parte do nosso imaginário e por mais que ele nos impressione ele não nos parece real a ponto de influenciar nosso dia a dia, diferentemente do personagem da novela ou do cinema.
E a pior coisa que poderia acontecer  nesse momento onde tudo se consome express e o tempo de criação vai diminuindo e de leitura também, criando no lugar uma pobreza intelectual tão grande e acostumada a folhetins baratos e de consumo rápido sem a menor preocupação de ganhar conteúdo; a banalização até dos grandes clássicos para tapar buracos desses tempos de tecnologias e facilidades.