Dentro da minha prosa vai um mundo de sentimentos que jorram; seja pelo meu espírito inquieto, seja pelo meu refletir incessante sobre as pessoas, minhas relações para com elas ou minha e delas para com o mundo. O meu sofrer nas letras nem sempre representa só o meu coração, algumas vezes é a interiorização de emoções que sinto ao meu redor, ou imagino em mim.
Para os que têm como eu, a veia entupida pelas letras, a sensibilidade na pele e a cabeça em constante ebulição pelos pensamentos, a inspiração insiste em dotar com criações, que para alguns pode parecer incompreensíveis, mas que para outros tantos que o sentem e não conseguem exteriorizar, nessas criações se enxerguem pura e simplesmente.
O corpo só vai onde a cabeça comandar para ir, o mesmo não acontece com os pensamentos que são livres e nunca cessam.
O fascínio do pensar, de refletir está justamente na relação que se pode ter com as palavras e as letras; que pode ser para espelhar sonhos intangíveis ou simplesmente colocar no papel verdades advindas da observação constante e criteriosa.
O mistério que há dentro de cada um de nós é o que nos torna fascinantes. Por mais que se possam espionar as pessoas, aonde vão e como se comportam: seus pensamentos são invioláveis e nesse grande mistério é que reside, a beleza do descobrir o outro, a incerteza do futuro.
O dia de amanhã está por ser escrito e cada um terá a sua parte na construção desse amanhã; alguns contribuirão com gestos, outros com palavras, outros com suas invenções, criações e até com seus erros e dessa experimentação é que se faz a vida.
Dentro de cada pessoa se move uma história paralela a que se move do lado de fora, nos gestos e na experimentação da vida, que quase não vem à tona. A pessoa que somos interiormente quase nunca é conhecida pelos outros e muitas vezes nem por nós mesmos.
Poucas são as pessoas que se interiorizam a ponto de se questionarem a fim de se conhecerem mais intimamente, falta tempo e sobra falta de interesse e até muito medo. Medo do que se possa encontrar nesse desconhecido eu que temos lá no fundo. É muito mais fácil lidar com o eu que levamos para o mundo, já que esse eu é o que sabe vestir máscaras, sabe mentir e sabe representar.
Brincamos de esconde-esconde para fazer da vida alguma coisa muito mais agradável do que é realmente e quando somos surpreendidos com o peso da realidade o resultado quase sempre é desastroso; adoecemos. Entretanto não se pode viver como num conto de fadas se escondendo da realidade; ninguém agüenta viver de realidade 24 horas, como não se pode viver 24 horas de sonhos. Mas quem saberia o limite considerado equilibrado, já que cada um tem necessidades diferentes e constituição física também diferente.
Não há regra para se viver no tocante à experimentação emocional, nem poderia, o que há são pessoas mais ligadas às coisas da matéria e pessoas com maior intimidade com as coisas do espírito, o que não quer dizer que uma e outra não possa ter experiência com as duas coisas. A cada um, segundo a sua sensibilidade.