segunda-feira, 30 de abril de 2012

Uma briga entre o espírito e a carne


Eu quero voar

O denso da matéria me amordaça o espírito, e ainda que meu espírito fale mais alto não consegue vencer a couraça pesada que o reveste.
Uma batalha travada no dia a dia  me faz oscilar entre as escolhas mundanas e o chamado melodioso do espírito.
Se de um lado o espírito me dá uma visão infinita do mundo, me promete a imortalidade da alma e a beleza só concedida aos desprendidos da matéria; o mundo táctil me faz provar o gozo imediato das relações, me faz sentir o prazer fácil das conquistas, bem como a satisfação beligerante do consumo. O mundo da matéria tem efeito passageiro, sabiamente conhecido, mas nunca é  drasticamente rejeitado diante do prazer  egoísta.
Por mais que eu saiba, e por mais que eu reconheça a efemeridade da matéria me vejo às voltas com a indecisão de trocar a graça, a leveza do corpo sutil pela grosseira e arrastada roupagem carnal.  
Nessa luta titânica diária os anos correm sorrateiramente, tanto que quando olho meu par de olhos no espelho, percebo que seu brilho embaça juntamente com a carcaça cansada que se arrasta indefesa frente a ação irredutível do tempo.
Engana-se o insensato que ajunta riquezas tolas sem semear no seara do seu coração amor puro, incondicional, pois que a semeadura não é obrigatória, mas a colheita sim. O que sobrará sobre a terra senão carne tola para o banquete macabro?
Olho para o céu, caminho sobre a terra e meu espírito volita acima da terra batida, sempre na esperança de conquistar de vez meu mortal coração.
Nada mais me separa do ontem do que eu mesma, e nada, nada mesmo me separa do meu amanhã, senão eu mesma; em carne e osso.
Ouço acordes melodiosos como brisas roçando minha pele cansada, meus pés ainda se arrastam querendo voar.

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