terça-feira, 7 de julho de 2009

As insanidades


O que poderia explicar senão um transtorno psíquico um jovem que não esteja sob o efeito de uma droga, empunhar uma arma entrar numa faculdade ou num shopping atirando a esmo em diversas pessoas? Como entender um pai matando um filho de forma violenta e brutal ou vice-versa? Como entender a pedofilia? Por que um pai sevicia uma filha? Cadê as barreiras naturais de respeito, de pudor?
A droga está por toda parte, tanto as ilícitas como as lícitas e não se consegue combater seu uso. Pelas drogas ilícitas se morre e se mata muito; por conta dela a sociedade vive com medo e acuada pela violência que ela provoca em todas as camadas da população, porém as drogas chamadas lícitas como a bebida têm minado sobremaneira as famílias, e para ela nem um tipo de combate é usado, as famílias ainda convivem com o estrangulamento causado por ela.
Tanto uma como outra rouba o que tem de melhor a vida do seu viciado, que se perde da realidade porque busca dentro dela uma fuga. A dor que existe dentro de cada um é que move em direção a essa fuga loucamente desenfreada da realidade.
O dia seguinte é um pesadelo tão dolorido e para fugir dessa dor ainda maior que é a culpa, a fuga é a única saída, e o processo vira uma bola de neve.
Às vezes é preciso estar sob o efeito de alguma droga para que a personalidade verdadeira venha à tona, é assim que muitas pessoas soltam seus monstros, revelam a face feia oculta pelas máscaras do dia a dia social.





Boa Noite ( da série Boa Noite)
(Em homenagem as mulheres)

Como te acusar de violência, se não tenho hematomas para exibir...
Se tenho a pele limpa
e nenhuma fissura ou vergão?
Como explicar essa prisão, se não se pode
ver as grades?
Não ando atada, nem tenho algemas nas mãos,
mas quem pode garantir que sou livre?
O assalto dos pensamentos, o estupro da individualidade e a violação da intimidade
não é visível aos olhos dos passantes...
A intimidação, a coação a ameaça velada
te garante a supremacia de macho, mas não te dá
o lugar de homem no meu coração;
esse ato canalha e boçal não deixa pistas...
e põe um brilho sarcástico no teu olhar...
O quanto ainda passas por perpetuador da espécie, senhor, amo e soberano enquanto mantém tua vítima aprisionada ao medo...
Teus direitos sempre são sagrados, só eu não posso ir e vir sem pedir consentimento...
Simulas como cansaço a tua indolência, como mero esquecimento a tua negligência...
enquanto um esquecimento meu vira motivo de punição...
O meu direito de pensar e decidir é considerado rebeldia, só a ti o direito de expor pensamentos e decisões...


O que me sobra senão o segundo plano?
Os nãos são todos privilégios teus, e os meus sins devem ser sempre ao teu favor...
Que mundo é esse que te dá direitos e a mim, deveres?
Comunhão ou privação de individualidade?
Casamento ou título de propriedade?
Amor ou posse?
Violência sussurrada atrás da porta,
em doses pensadas e meticulosamente estudadas...essa que não te acusa, por falta de provas...




Olhando assim a olho nu, ou seja, sem ter uma formação clínica ou acadêmica, fica difícil diagnosticar o que faz a nossa sociedade doente, contudo nada impede que eu ou qualquer cidadão olhe, analise e tire as suas próprias conclusões, já que tudo está aí tão às claras.
No meu entender tudo tem uma explicação e para quase tudo uma solução ainda que paliativa.
Minhas experiências pessoais e minhas observações juntamente com uma reflexão exaustiva mostram-me que para cada dificuldade enfrentada há sempre uma causa, aparente ou não, e cada um de nós tem uma maneira de enfrentá-la e através desta também fazer desencadear outra seqüência de comportamentos, que algumas vezes podem ocasionar um mal pior que a própria dificuldade.
O que faz com que um jovem enverede pelas drogas? Frustração? Desilusão? Ou simplesmente a vontade de conhecer o outro lado da sua personalidade, aquele que fica escondida por medo da censura? Talvez a vontade de ser livre para fazer o que é condenável pela sociedade, será? Seria um jeito de perder a inibição? Ou a vontade de ter a droga como escudo para sua loucura interna represada?
É um intrincado de sentimentos e emoções envolvidos no comportamento das pessoas e que a partir disso reflete na sociedade. O que faz com que a droga aumente cada vez mais o número de usuários senão a idéia de uma ilusão fantástica, de uma viagem sem fronteiras? A venda da droga também induz ao seu usuário um acesso a liberdade nunca experimentada, bem como uma fonte de prazer. O viciador tem como sua principal arma pegar o usuário pelo emocional, e isso sempre se dá em todos os casos. A meta do indivíduo que induz ou do objeto viciante, é incutir no emocional da vítima sugestões que o levem a experimentar para aliviar alguma “dor” ou dificuldade e consequentemente ficar dependente, o vício nada mais é do que uma dependência psicológica.

Ocorre que atrás da droga existe uma indústria, que enquanto ela destrói vidas, adoece a sociedade, uma parcela de pessoas enriquece. E como a droga é um jeito “rápido e fácil” de enriquecer muita gente acaba mergulhando no tráfico, buscando esse lucro fácil, uma vez que não precisa fazer propaganda, não precisa nada além da droga, dos dependentes e a curiosidade do iniciante. A droga tem um apelo tão forte, que mesmo sendo amplamente divulgado seus malefícios isso não impede que as pessoas caiam na sua armadilha.
O burilar do emocional das pessoas é uma tarefa que fazem com maestria os interessados em vender a droga, empregando técnicas inteligentes; como oferecer gratuitamente para iniciação. Há que se levar em conta que o terreno usado para empregar essas técnicas, que são os mais férteis. Os jovens além de estarem começando a experimentar as coisas da vida, situações novas, sentimentos novos, também estão prontos para se lançarem no que no primeiro instante parece só uma aventura recheada de prazer, e estes são os melhores alvos, pois sem terem ainda compromissos sérios e serem presas fáceis estão abertos às novidades.
Os jovens têm ainda o lado emocional turbulento em função de tudo estar ainda acontecendo como espocar de fogos na sua tão nova existência e por não terem a vivência que lhes dê discernimento experimentam sem avaliar com conhecimento suas conseqüências.
Quando esse jovem não vive uma situação mal resolvida no âmbito familiar ou frustrações próprias muito grandes, ou ainda profundas dificuldades de relacionamento, ele é capaz de simplesmente experimentar sem que isso vire nele um vício. Ouso dizer, que todo jovem que mergulha no vício sem encontrar uma saída tem dificuldades com as quais não consegue lidar, e pior que isso, dificuldades que ele não consegue dividir com outra pessoa. A juventude é rica de acontecimentos; tanto bons como ruins, muito desses acontecimentos o jovem não consegue explicar e não consegue entender e se esse jovem não tiver laços de afetividade fortes, e se não possuir uma família que lhe dê a certeza sólida de segurança nos aspectos emocionais, ele vai se perdendo, no caso aqui, ele se perde da família para as drogas e seguramente para o mundo do crime.
É evidente, que na juventude quando as novidades do corpo e as novidades nas emoções e sentimentos começam, todo jovem vive um momento de muitas dificuldades de entendimento e aceitação, isso não quer dizer que todo jovem experimenta ou que todo jovem vá cair nas malhas da droga, mas que por todo esse acontecimento ele passa a ser uma vítima em potencial não se pode negar.
A principal meta de ataque do vício de um modo geral é onde “dói” no emocional, dessa forma é que se processa o vício por anfetaminas, barbitúricos e etc. Uma pessoa que consome barbitúricos é porque foge da falta de sono, da ansiedade, como a de quem consome drogas de emagrecimento e dos que consomem bebidas. Para todo tipo de vício há uma dificuldade emocional, seja ela aparente ou não.



Os padrões familiares hoje não têm a mesma rigidez de outros tempos; nós os pais tendemos a conceder aos nossos filhos senão tudo, quase tudo que não pudemos ter inclusive o direito de não nos respeitarem. Por isso mesmo nem adianta reclamar quando nossos filhos falam alto, ou nos agridem verbalmente, nós mesmos demos a eles a liberdade de se expressarem desde muito pequenos da forma que entendessem. Ao invés de educá-los com liberdade, incutindo neles o respeito no trato para conosco, nós usamos e abusamos também do desrespeito quando gritamos com eles, quando desrespeitamos sua inteligência e entendimento e quando mentimos para eles.
Protegemos tanto nossos filhos a ponto de não os deixarmos sequer se sujar, com isso eles demoram a crescer. Enquanto nós fomos obrigados, por conta dos costumes, a amadurecer cedo e nos tornarmos responsáveis antes mesmo de ter idade para isso, nossos filhos chegam perto dos 30 anos e até passam dessa idade dependentes financeiramente de nós, só estudando e se preparando para a vida. Lá fora onde nem tudo é tão azul para aqueles que não têm a mesma dignidade de freqüentar uma faculdade os jovens também demoram a se tornar responsáveis, mesmo que trabalhem desde muito cedo, ainda que nesse ponto levem uma pequena vantagem com relação aos que só estudam e dependem exclusivamente dos pais.
Não há um manual que nos ensine como educar, via de regra aprendemos no dia a dia, enfrentando e vivenciado a maternidade e paternidade. Não seremos como nossos pais e nem nossos filhos o serão como nós, cada um descobre a sua maneira de educar.
É claro que existem semelhanças entre os padrões de cada época e por isso mesmo cada geração tem um modelo, que é próprio dessa semelhança de comportamento dos pais.




Trilogia


Três cartas em branco.
Três sorrisos francos.
Incógnitas oferendas;
De partos as prendas.

Três recados distintos.
Três taças de absinto.
Serenatas na chuva,
Vinhos de especial uva.

Três selos marcados.
Três beijos separados.
Três idiomas estranhos,
Três caminhos risonhos.

Uma homilia e três missas.
Três nós, uma madeira maciça.
Uma anunciação, três vidas.
Três bênçãos e três feridas.

Três rios exuberantes,
Agonias lancinantes.
Três certezas consentidas,
Três belezas embrutecidas.

Essências etílicas brutais,
Vertigens tão desiguais,
Humores de frio metal,
Afiadas lâminas do mal.

Três velas içadas no mar;
Navegadores a vagar
Engolindo atônitos vendavais,
Cuspindo terríveis temporais.

Três amores e três dores,
Meus anseios e temores;
Três poemas prediletos,
Três martírios secretos.

Três caprichos da natureza,
Uma inalienável certeza;
Três vidas tivesse, três vidas daria
A cada uma dessas poesias.

Um comentário:

  1. Angélica,
    maravilhoso e verdadeiros tanto o texto como os poemas.
    Não se consegue entender o porque dessa insanidade, dessa maldade e prepotência, essa dupla personalidade que atinge até as pessoas que nos rodeiam.
    Pior é quando essas pessoas não querem seguir um tratamento ( acham que não precisam de ajuda) e tornam a vida e de si e de outros um verdadeiro inferno.
    bjs

    Bjs

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