segunda-feira, 22 de março de 2010

A essência de cada um pode mudar?

As vezes me pego pensando se não seria melhor ter nascido longe dos livros e sem essa enorme curiosidade que me move. Quanto mais eu enfio a cara nos livros, mais e mais as dúvidas me assaltam. Quanto mais eu me pergunto, quanto mais eu reflito, mais eu me deparo com perguntas e mais perguntas que não sei as respostas.
É angustiante querer entender e não saber por onde caminhar para descobrir. Aceito, na maioria das vezes, a minha própria definição ou as minhas deduções. Não que não existam respostas, claro que elas devem estar por aí, certamente muita gente já se perguntou, estudou, definiu e ficou satisfeito com suas buscas, eu porém, vivo às voltas com dúvidas imensas, querendo compreender os mecanismos humanos. A observação me ajuda muito, mas não responde a questões que em dados momentos me parecem cruciais e até existenciais.
Se olho para o lado espiritual e até pragmático eu creio que somos todos constituídos por vários corpos vestindo um espírito que é imortal. Bem, se somos espíritos imortais vestindo ao longo dos anos e séculos corpos carnais isso quer dizer que a nossa essência é sempre a mesma, e o que nos diferencia no mundo e nas inúmeras vidas é a círculo em que nascemos, as condições financeiras, sociais, o país, o sexo etc. Enfim respondemos aos estímulos do meio em que vivemos.
Nos é ensinado nas religiões ou doutrinas que creêm no reencarnacionismo que a medida que encarnamos vamos queimando karmas e com isso polindo nossos espíritos, por outro lado outras doutrinas crendo em uma única vida também pregam o desenvolvimento espiritual , a melhora individual de cada ser humano para a eternidade, e aqui a crença também é na eternidade do espírito, ainda que com uma única vida.
Posto isso eu me pergunto: Se a essência é a mesma, se o espírito tem ali em seus registros uma natureza própria e única; como pode ele evoluir sem se perder da sua essência?
É claro que eu acredito, ou quero acreditar no progresso do espírito, mas fico ainda com a impressão de que não se pode mudar totalmente a natureza intrínseca porque esse é o molde no qual ele foi constituído.
Um espírito que traz na sua essência qualidades não vai perdê-las ao longo das sucessivas encarnações porque elas são inerentes ao seu espírito que é imortal. E um espírito que tem desvios de conduta, má formação de caráter será que evolui a ponto de não vacilar nunca mais ou não cair na tentação de fazer uso destes desvios?
Bem, para complicar um pouco mais vamos pensar no seguinte, nos seres humanos encarnados a essência seria o id de cada um, o inconsciente, a parte da psiquê que não temos acesso por livre e espontânea vontade, mas que está lá guardado dentro de nós. O ego é outra partição da psiquê onde estão os pensamentos, comportamentos, a forma e imagem que nás passamos ao mundo de forma consciente . Enquanto o superego é o nosso eu ideal, é aquele policiado por nós, onde só mostramos o que é políticamente aceito e correto.
Visto isso eu imagino então que o id é a nossa mais pura essência já que ela não depende da nossa vontade e está lá no inconsciente; então ela seria a essência pura do espírito com qualidades e defeitos. Agora, se o nosso ego é a a parte consciente, a que mostramos ao mundo, certamente ela terá a influência do id porque ele é a essência do sujeito, encarnado ou não, ainda que ele sofra a influência do meio e o seu espírito esteja sob o efeito do esquecimento de si próprio para a encarnação presente.
E olhando para esse ponto, sem atentar para o lado evolutivo pregado nas doutrinas, ou seja, uma visão puramente racional, eu não posso imaginar um ser humano que traga na sua bagagem espiritual defeitos e qualidades não permitir que elas aflorem, porque certamente elas vão influenciar o seu ego em algum momento.
Estaremos irremediavelmente condenados a não nos livrar da nossa essência se ela nos for perniciosa? Sim, porque a todo momento ela vai aparecer de alguma forma e influenciar comportamentos e ações?
Vamos pensar num espírito que tem hoje por volta de mil anos ( supondo apenas), ele que tem a sua essência imutável ao longo de muitas existências, esteja vivendo encarnado nos dias de hoje, pergunto:
Será que ele é melhor hoje do que era quando foi concebido como espírito?
Não contando com benécias que as doutrinas pregam, olhando pura e simplesmente para uma sucessão de experiências carnais. Teria esse espírito (encarnado nesse momento) evoluído só através das experiências, de erros e acertos, pura e simplesmente?
Não traria esse espírito ranços de sua essência apontando em alguns momentos dessa encarnação, já na 14ª ( mais ou menos) existência carnal, em mil anos de vivências tantas?
Seria o seu ego um manipulador eficaz a ponto de esconder uma essência que não conseguiu se polir ao longo de mil anos de seguidas ingressões carnais?
Se nós não podemos mudar a nossa essência, como então pensar que atingiremos um ponto mais alto pregado em tantas doutrinas? Ou para atingir a nossa melhor condição espiritual visualizando um mundo de seres perfeitos?
Eu entendo como essência o espírito conforme concebido originalmente; com qualidades e defeitos.
É ponto pacífico pra mim, que somos energias imortais, dando-se à ela o nome que for, espírito, alma ou o que for. E pensando assim, não consigo ver saída para esse embate; se concebido sem perfeição, pois assim o sabemos, como querer consertar em uma existência o que é inerente em cada uma dessas energias: a sua essência!

2 comentários:

  1. Kika, penso que a soma das nossas imperfeições, ao contrário de nos levar ao caos, em dado momento, como um "fiat lux", abre-nos uma porta para a consciência e necessidade de melhoria. À parte dogmas e doutrinas, o pensamento do e no bem movimenta sutis partículas que corroem qualquer mal, às vezes leva tempo, é verdade, mas, quem sabe, um dia cheguemos lá!!
    Beijo, Companheira!

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  2. Angélica,
    Antes de mais nada, parabéns por suas instrospecções, por seus pensamentos tão bem descritos, tão bem elaborados. Creio que sejamos de partes iguais, de locais tais, de certa forma próximos.
    Te vejo escrever num grupo do qual também faço parte (2012) e até hoje, pela voracidade e quantidade de informações a que estamos expostos, nunca cliquei num link que vem sempre abaixo de sua assinatura e que me remeteu a este teu blog.
    Surpresa agradável ler esse texto de tua autoria, no qual falas de tua angustia por querer entender e das muitas perguntas que surgem à cada nova conjectura. Vi que temos uma linha comum de raciocínio e por esse motivo tomo a liberdade de discutir contigo alguns pontos de sua exposição, inicialmente discordando de ti quando dizes que devem existir pessoas que “certamente ... já se perguntou, estudou, definiu e ficou satisfeito com suas buscas”. Não creio que aquele que busca verdadeiramente fique satisfeito com o resultado de suas buscas, até porque cada resposta vem acompanhada com mais um sem número de perguntas como você mesma coloca.
    Quanto a questão do entendimento espiritualista, reencarnacionista ou não, penso você sintetiza e expressa bravamente o erro básico e estrutural das doutrinas e religiões: Como se pode conceber a criação de um espírito num estágio grosseiro ou atrasado, que necessite de polimento? Como Deus ou o Universo pode exigir a “melhora individual” em uma ou várias vidas se desconhecemos aquilo no qual precisamos nos esmerar? E você mesma conclui, ainda que por outros meios, quando interpõe a pergunta “Se a essência é a mesma, se o espírito tem ali em seus registros uma natureza própria e única; como pode ele evoluir sem se perder da sua essência? (...) Um espírito que traz na sua essência qualidades não vai perdê-las ao longo das sucessivas encarnações porque elas são inerentes ao seu espírito que é imortal.”
    É isso... Entendo que evoluímos sim, mas não “queimando karmas”, não porque somos manquitolas ou nascemos imperfeitos, mas porque um diamante ou uma estrela evolui sempre para um estado de maior perfeição, se expande sempre. O meio age sobre nós, afinal não poderia ser diferente, porem “desvios de conduta ou má formação de caráter” não existem nesse nível até porque essa classificação só pode ocorrer quando os valores são avaliados em contraposição ou sob o prisma de um código social vigente, seja ele religioso ou não. Conceitos como Bem e Mal não passam de classificações temporais, portanto inexistem no plano da eternidade.
    Não vou me estender mais até porque é meu primeiro contato contigo. Parabens mais uma vez pelo seu blog e saiba que você é, aqui e agora, como sempre foi, um Ser Perfeito e Pleno.
    Um grande abraço
    Alcy Paiva
    alcypaiva@yahoo.com.br
    www.alcypaiva.blogspot.com

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