Solto as rédeas do pensamento e deixo que ele voe para onde lhe convier, já não sou a mesma desde que amanheceu, hoje eu não posso mais conter nesse pequeno pote a vida que tenho e a que quero.
Joguei os anéis, livrei-me das roupas apertadas, só quem me acompanha sem escolha é minha sombra.
Sustento meu eu quase físico porque esse, miro no espelho e dele preciso para me mover entre os espaços limitados por onde eu sobrevivo enquanto vivente; meu eu subjetivo não alcanço mais de tão longe que sei estará e rindo da pequenês do meu bobo aglomerado atômico.
Não sei se quem escreve é o meu eu mais presente ou o eu pensante, certamente não é o eu que me espia. Talvez o meu eu presente seja a minha pior apresentação, apesar de bem articulado e um resultado de experiências tantas que aos poucos o tem lapidado.
Desmembrando minhas porções existenciais descubro que nem sempre meu eu mais pensante consegue interagir totalmente com o meu eu mais presente, o que se comunica e transporta para o mundo real as intrincadas relações existentes no mais recôndito de mim.
Reconheço-me em muitas facetas, sei-me em muitas nuances e em tempos que não retenho nas mãos já que ele não se mede em ponteiros. Hoje já não consigo mais juntar as partes soltas que descobri em mim; visto-me das pessoas que tenho nas algibeiras porque essas pessoas fractais me servem de roupas adequadas nada mais.
No espelho de mim, visto-me das certezas de ser para encarar a certeza dos meus passos, não há espaços vazios, desconhecidos sim, vazios; nunca.
Meu eu infinito, aquele que engloba a minha verdadeira essência mora no altar das divindades, já que como essência é divina e forjada a semelhança do Criador, é a porção que nem o meu eu mais sutil alcança. A distância que separa o eu bruto do eu infinito é puramente física para os meus olhos.
Muitos encaixes me contêm, muitos moldes se ajustam a mim e só me reconheço nessa malfadada
carcaça, embora sinta as múltiplas dimensões que me cercam. Talvez tenha sido talhada para enxergar
essa imagem unidirecional refletida e chapada sem questionar, mas eu vou além; tateando pelo escuro, sentindo as sensações, cheiros, volumes e pensamentos que reconheço volitando no meu entorno até descobrir que não me caibo mais nessa meia verdade que o mundo aceita de mim.
Angélica.
ResponderExcluirÉ isso ai, somos feitos de tantos fragmentos
que nos perdemos em mentiras e verdades, sentimentos e esperança, dor e saudade, sobrando bem pouco espaço para o amor e a alegria. Mas sempre existe, é preciso deixar uma janela sempre aberta...
bjs