quarta-feira, 22 de julho de 2009

dos relacionamentos


A vida antes pacata e quase sem ambições foi substituída por uma vida corrida, competitiva e numa desenfreada busca de possuir cada vez mais. O ter passou a ser mais importante que o ser. A tecnologia contribui para que os comportamentos sofram influência direta, já que tudo gira em torno dela no nosso dia a dia, seja de trabalho ou lazer, e as pessoas que não conseguem participar dessa corrida de aquisição tecnológica se sentem marginalizadas, frustradas, e isso faz com que muitos, principalmente os mais jovens, enveredem pelo mundo do crime, roubando e matando, porque essa é a maneira que alguns encontraram para “ter” e assim não se sentirem tão diminuídos diante da sociedade que insiste em negar-lhes o direito de pertencer a uma sociedade justa e igualitária.
Entretanto não é só o jovem que se sente excluído quando não consome, é todo um contingente de pessoas que buscam incessantemente acompanhar em vão o volume e a velocidade cada vez mais frenética da indústria tecnológica, que vai imprimindo nas pessoas o desejo de consumir vorazmente.
Tudo ficou muito descartável, pela maneira veloz com que a tecnologia avança, e juntamente com os aparelhos, as pessoas estão ficando descartáveis; como o ser humano não é uma máquina que evolui tecnologicamente ele vai sendo superado por outro e outro sucessivamente como se isso pudesse explicar a enorme insatisfação humana.
Uma máquina produz prazer por tempo indefinido já que ela vai se modernizando, como no caso de um microcomputador, celulares, MP3 , MP8 e assim por diante e outros tantos, as novidades não param, e ao invés do envolvimento com um outro ser humano que não tem novidades todos os dias, as pessoas preferem o prazer frio da máquina.
Quando digo que as pessoas não proporcionam tanto prazer como as máquinas, digo-o pelo tipo de prazer procurado pelos adoradores de novidades tecnológicas.
Nesse mesmo ritmo surge a tecnologia que retarda o envelhecimento, ou tenta prolongar a juventude, porque ser velho hoje é feio! Imagine dizer isso num país, principalmente nos orientais, onde os mais velhos são tratados como relíquias pelos mais novos, eles que são considerados a verdadeira fonte da sabedoria.




Stand by

eu fazendo download
no meu coração
você em stand by
contempla
vê se acorda e zipa
meus documentos

fiz up date de você
liberei o firewall
e você continua
stand by
vê se acorda e executa
meus programas





É tanta novidade na indústria da beleza que é preciso muito fôlego e dinheiro para se poder acompanhar uma parte, já que o todo é impossível. As pessoas podem se modificar totalmente, remodelar o corpo, o rosto, aumentar e diminuir os volumes de seios, nádegas, barriga, pernas, etc. Podem ter cabelos curtos num dia e longos no seguinte. A coisa ficou tão requintada a ponto de se fazer tratamentos para a pele com ouro, diamantes, cristais.
A indústria da beleza antes só direcionada à mulher hoje tem no homem um alvo potencial também, já que ele hoje também disputa espaço nas clínicas salões e estéticas.
Estimulado por essa nova realidade temos um mercado de relacionamentos muito, mas muito mais exigente, onde a sensação presente tanto para homens como para mulheres é de se estar na vitrine constantemente e vivendo sob a pressão de ser rejeitado por não corresponder ao modelo que as mídias estereotiparam.
Essa vitrine também se pode verificar, não em menor escala, no mercado de trabalho, onde a aparência vale até mais que a capacidade e o conhecimento.
Ter rugas é over! Não ter a pele de pêssego é um pecado, celulite então, um horror.
Pensa-se pequeno quando se procura um relacionamento; e como as qualidades não estão estampadas na face e não despertam tesão é preciso procurar um motivo de tesão, e é claro que ele vem da aparência e se vier acompanhada de um estilo tecnologicamente correto, tanto melhor. O investimento pessoal hoje é muito alto daí as pessoas se valorizarem tanto a ponto de se tornarem exigentes demais na hora de se comprometerem com outra pessoa. Quando um casamento não dá certo e não há filhos envolvidos os filhos homens ou mulheres acabam voltando para a casa dos pais, que geralmente não desfizeram seu quarto, embora essa tendência seja muito maior entre os homens. As mulheres têm uma visão um pouco mais livre quando se trata de terminar um casamento, normalmente elas trabalham e se mantêm e preferem ter seu próprio espaço para recomeçarem sem a interferência dos pais. Os homens preferem estar por perto dos pais, onde se sentem protegidos e que de alguma forma não exige deles tanta responsabilidade em manter seu próprio espaço, por questões organizacionais. O homem gosta mais da dependência da mãe que as mulheres que são criadas mais em contato com a vida doméstica e para elas é mais fácil ter seu espaço que disputar o dela com a mãe.
A maioria esmagadora das mães gosta da volta do filho nessa circunstância é como se recuperasse o filho.
É sabido que o homem quando se casa procura na mulher um pouco da sua mãe, é uma relação meio incestuosa porque o homem quer uma mulher diferente da sua mãe e ao mesmo tempo que possua as qualidades que sua mãe tem, ou gostaria que tivesse.
Mas e a mulher o que procura quando se casa?
A mulher tem uma visão mais romântica, ela procura o príncipe encantado, o homem sem defeitos e que vá realizar seus sonhos.
Será que essa ainda é a visão que a maioria das mulheres tem do casamento? Um pouco, mas já tem mudado bastante porque a mulher tem procurado, especialmente nas camadas onde o nível de estudo é mais alto, um companheiro com quem possa dividir experiências, constituir família e patrimônio, com os pés bem fincados na realidade, por esse mesmo motivo quando não se consegue atingir essas metas por falha de um deles o casamento termina e a amizade muitas vezes permanece, porque a divergência se mostrou só no convívio amoroso.
Os homens embora ainda tenham lá no fundo a mesma busca do tipo Édipo Jocasta; perderam um pouco do interesse no casamento, visto que o excesso de liberdade das mulheres mudou as regras do jogo passando-as de caça a caçadoras. O instinto do homem de ser o cortejador lhe concedia a fama de ser o dono da situação e a partir do momento em que a mulher inverteu esse papel e colocou o homem num pedestal como se fora um objeto; causou nele desinteresse pelo casamento como ato institucional e instigou sua vaidade que o torna de certa maneira desdenhoso para com as mulheres.
A parcela de futuros maridos prefere mulheres que tenham uma carreira profissional e independência financeira, são esses os que olham a mulher não como um adorno para o lar e sim com uma companheira, alguém com quem além de dividir a cama e a mesa tenha motivos outros para conviver. Nesse caso a inteligência da mulher e a sua realização pessoal e profissional também se tornam um atrativo para o homem.
Há ainda uma generosa quantidade de mulheres que preferem não se envolver em compromisso sério e viverem quase que exclusivamente para a realização pessoal e profissional. O mundo moderno abriu as portas para as mulheres crescerem profissionalmente até em profissões que antes eram de exclusividade dos homens, com isso está surgindo mais e mais a mulher independente voltada para a sua satisfação, que pode optar em ter filhos como “produção independente” , com a participação masculina sim, mas sem que necessite da paternidade na criação ou na manutenção da sua cria.
Dos relacionamentos de iguais não tenho ainda uma opinião totalmente formada, meu contato com esse tipo de relação ainda é pequeno para observação, ele só se dá na esfera das celebridades, ou seja longe do meu âmbito social.
É mais fácil falar dos modelos pré-estabelecidos pela sociedade que os considera “normais”, por fazerem parte do nosso dia a dia, entretanto a multiplicidade de modelos de relacionamentos vem ganhando espaço no mundo moderno por afinidades indiscutíveis e para essa gama de modelos é preciso um capítulo à parte.



Boa Noite ( da série boa Noite)


Se me cerco de mil palavras e gestos, é porque sei que faço deles, meu elo com o mundo que atravessa minha soleira, um mundo que não aceita silêncios, não entende olhares. Não gosta e não conhece excesso de franqueza. Não compreende a beleza simples das expressões naturais.
Se receio contatos e toques é porque as mãos que me esbofeteiam hoje, me acariciaram ontem. Se recuso beijos é porque o selo frio dos lábios me assusta, tanto quanto promessas, não cumpridas.
Tenho as frestas entreabertas, e guardo as luas encobertas para que só meus olhos as toquem, uma a uma, em cada fase.
Não me dou em bandos, não me acho além dessas quatro paredes; tenho a sede dos oceanos, mas braços de rios.
Tenho a infinitude da imensidão, a solidão dos astros e a liberdade dos ventos.
Tenho olhos de constelação e brilhos emprestados.
Vejo a vida pelo espelho da minha retina, onde costuro no tempo o que vestirei na eternidade.
Tenho plumagens e não sou pássaro.
Tenho cores e não sou o arco-íris.
Ando solta e sem laços porque sou única
e não me encaixo em nenhuma fenda.
Não nasci para oferenda, mas tenho meu nicho de adoração, onde cultuo e brindo a mansidão serena que me visita em rasgos.
Da minha soleira para o universo
basta um momento, um pensamento.






Há relacionamentos abertos onde cada qual tem a sua liberdade sem que o outro interfira, não sei se é um relacionamento sério já que não há fidelidade nem compromisso de ambos os lados.
A maior dificuldade dentro de um relacionamento hoje é manter a fidelidade, já que hoje as mulheres também descobriram na traição uma forma de dar o troco ao que os homens sempre fizeram. Embora nem sempre a traição seja usada como uma forma de vingança, o que ocorre é que a partir da liberação das mulheres elas resolveram experimentar tudo que antes não lhes era dado o direito.
É preciso lembrar que a traição sempre existiu por parte de ambos os sexos, o que mudou foi que antes era quase que um privilégio exclusivo dos homens e hoje a mulher trai tanto ou mais que o próprio homem.
Além da traição há outros fatores que minam as relações como a falta de responsabilidade em assumir cada qual a sua parte dentro do compromisso, a falta de tolerância para com os erros e defeitos do outro. Há sempre a expectativa de se encontrar outro (a) parceiro (a) que não possua o mesmo defeito, assim os casais estão sempre olhando ao entorno e fazendo comparações.
A facilidade com que se entra e sai de um relacionamento acaba por deixar as pessoas insatisfeitas e sem ânimo de estabelecer um compromisso mais sério e duradouro.
Na minha geração ainda se encontram casais que completaram bodas de prata, casamentos duradouros apesar de todas as dificuldades, entretanto os mais jovens não tem a mesma paciência para lidar com essas mesmas dificuldades, basta observar suas críticas dirigidas aos pais e seus comportamentos.
Muito embora a minha geração tenha sido a geração que inaugurou o desquite e o divórcio e foi a geração que primeiro experimentou a troca de parceiros ainda é uma geração de casamentos longos, ainda que sejam dois casamentos, diferentemente das mais novas onde os casamentos terminam bem antes de completar 7 anos.
Apesar de tanto experimentarem relacionamentos, tanto homens como mulheres, não aprenderam ainda a poupar os filhos de seus desvarios, evitando colocar no mundo filhos sem uma família para servir de apoio para seu crescimento e desenvolvimento social. Ao se envolverem em vários relacionamentos sem saber ao certo se algum deles vai se tornar um relacionamento sério, seria preciso que ambos tomassem cuidados para evitar que tantos abortos fossem feitos comprometendo a saúde de tantas mulheres, e o nascimento de filhos indesejados, frutos de um prazer passageiro.
A cada dia se pode ver nos noticiários quantos filhos são jogados no lixo após o nascimento, como se fossem algum objeto sem importância, conseqüência do pouco valor que se dá a vida.
Eu ainda me pergunto o porquê dessas mães não terem usado a camisinha ou outro método anti-conceptivo, já que o nível de informação hoje é massificado e excluindo o interior dos estados onde a mídia não chega com o mesmo volume de informações fica quase impossível acreditar que seja só falta de cuidado.
Não acredito faltar informação para esses jovens, acredito sim, na falta maturidade e de perspectivas de ambos quando se jogam nos relacionamentos, usando os mesmos somente para extrair dele prazer inconseqüente. Não obstante terem esses jovens o exemplo de outros jovens e muitas vezes até seus amigos, acabam incorrendo no mesmo erro.
Dentre os jovens que tem um nível de escolaridade maior também há ocorrências desse tipo, porém em quantidades menores; esses jovens priorizam seus estudos e para tanto tomam mais precauções a fim de evitarem que fuja do controle o relacionamento e que produza frutos indesejados que podem atrapalhar os estudos e uma futura carreira.
Como a experimentação das relações completas começa muito cedo e sem restrições é comum verificar jovens ainda completamente desiludidos com os romances e desinteressados em firmar compromissos mais sérios e duradouros, não há expectativas nem novidades tudo já foi consumido desde muito cedo

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Loucuras?

Da minha constante observação e vivência dos fatos ouso dizer que psiquiatria nunca foi tão profícua quanto agora, como nunca engatinhou tanto, senão vejamos: O número de transtornos explicados pela psiquiatria tem aumentado consideravelmente da mesma forma que o desconhecimento em lidar com tanta diversidade. Hoje ser “normal” é ser a minoria, porque de perto, como diria Nelson Rodrigues, ninguém é normal. Vamos chegar a um tempo em que seremos separados por tribos psiquiatricamente explicadas.
Convivemos numa sociedade onde as pessoas têm comportamentos conflituosos para consigo mesmas, sem que isso afete seu convívio social, da mesma forma que se adentrarmos as famílias vamos observar que não é raro encontrar no meio delas os mais variados distúrbios psicológicos e psiquiátricos.
Apesar da psiquiatria hoje oferecer tratamento para a grande maioria de distúrbios mentais, não existe uma política adequada para atender ao crescente número de pessoas que carecem desse atendimento. Não existe suporte psiquiátrico por parte das instituições governamentais para tantos pacientes e para tantos familiares, pois não só os pacientes carecem de atenção e tratamento, as famílias também carecem de suporte psiquiátrico para aprenderem e suportarem conviver com seus pacientes, sejam eles produtivos ou não.
Apesar dos transtornos como T.O.C Transtorno Compulsivo Obsessivo, da Esquizofrenia, Psicoses moderadas muitos pacientes com ou sem tratamento são produtivos, ou seja, trabalham, estudam e tem toda a liberdade de ir e vir sem constrangimento, o que eu, particularmente considero um ganho, pois a medida que essas pessoas se imiscuem na sociedade e trocam com ela experiências conseguem conviver com suas dificuldades e muitos aprendem com essa convivência enxergar em si a necessidade de buscar uma maneira de se integrar.



Loucura?
Angélica T. Almstadter

No balanço das palavras desconexas
Mordo sons entre os dentes apertados
Como compreender o tênue fio
Que traspassa esse portal
Se todas as imagens são complexas
Os sentidos revirados
E estampado no rosto, o riso é vazio?
Nada é pouco, e nem tudo é total
Existirá um limiar para razão,
Ou um patamar para loucura?
A inquisição que crucifica
Confere os atos, mas, produz reflexos?
Quando conhecer a sinceridade pura
Como conduzir a censura?
Qual o ato que por si se justifica?
Será que insanidade diferencia sexos?
Onde as dores dessa fé se estancam?
E onde se derramam?
Qual foi o tribunal que cegamente
Assinou com lágrimas essa sentença?
Quanto vale essa presença
Que atribui aos olhos vagamente
Um mundo que parece real?
O dia a dia repleto de rituais
A entrega silenciosa?
E na pira de sacrifícios: a vestal
Despe a alma amorosa
E passeia entre os desiguais
Ou iguais...

terça-feira, 7 de julho de 2009

As insanidades


O que poderia explicar senão um transtorno psíquico um jovem que não esteja sob o efeito de uma droga, empunhar uma arma entrar numa faculdade ou num shopping atirando a esmo em diversas pessoas? Como entender um pai matando um filho de forma violenta e brutal ou vice-versa? Como entender a pedofilia? Por que um pai sevicia uma filha? Cadê as barreiras naturais de respeito, de pudor?
A droga está por toda parte, tanto as ilícitas como as lícitas e não se consegue combater seu uso. Pelas drogas ilícitas se morre e se mata muito; por conta dela a sociedade vive com medo e acuada pela violência que ela provoca em todas as camadas da população, porém as drogas chamadas lícitas como a bebida têm minado sobremaneira as famílias, e para ela nem um tipo de combate é usado, as famílias ainda convivem com o estrangulamento causado por ela.
Tanto uma como outra rouba o que tem de melhor a vida do seu viciado, que se perde da realidade porque busca dentro dela uma fuga. A dor que existe dentro de cada um é que move em direção a essa fuga loucamente desenfreada da realidade.
O dia seguinte é um pesadelo tão dolorido e para fugir dessa dor ainda maior que é a culpa, a fuga é a única saída, e o processo vira uma bola de neve.
Às vezes é preciso estar sob o efeito de alguma droga para que a personalidade verdadeira venha à tona, é assim que muitas pessoas soltam seus monstros, revelam a face feia oculta pelas máscaras do dia a dia social.





Boa Noite ( da série Boa Noite)
(Em homenagem as mulheres)

Como te acusar de violência, se não tenho hematomas para exibir...
Se tenho a pele limpa
e nenhuma fissura ou vergão?
Como explicar essa prisão, se não se pode
ver as grades?
Não ando atada, nem tenho algemas nas mãos,
mas quem pode garantir que sou livre?
O assalto dos pensamentos, o estupro da individualidade e a violação da intimidade
não é visível aos olhos dos passantes...
A intimidação, a coação a ameaça velada
te garante a supremacia de macho, mas não te dá
o lugar de homem no meu coração;
esse ato canalha e boçal não deixa pistas...
e põe um brilho sarcástico no teu olhar...
O quanto ainda passas por perpetuador da espécie, senhor, amo e soberano enquanto mantém tua vítima aprisionada ao medo...
Teus direitos sempre são sagrados, só eu não posso ir e vir sem pedir consentimento...
Simulas como cansaço a tua indolência, como mero esquecimento a tua negligência...
enquanto um esquecimento meu vira motivo de punição...
O meu direito de pensar e decidir é considerado rebeldia, só a ti o direito de expor pensamentos e decisões...


O que me sobra senão o segundo plano?
Os nãos são todos privilégios teus, e os meus sins devem ser sempre ao teu favor...
Que mundo é esse que te dá direitos e a mim, deveres?
Comunhão ou privação de individualidade?
Casamento ou título de propriedade?
Amor ou posse?
Violência sussurrada atrás da porta,
em doses pensadas e meticulosamente estudadas...essa que não te acusa, por falta de provas...




Olhando assim a olho nu, ou seja, sem ter uma formação clínica ou acadêmica, fica difícil diagnosticar o que faz a nossa sociedade doente, contudo nada impede que eu ou qualquer cidadão olhe, analise e tire as suas próprias conclusões, já que tudo está aí tão às claras.
No meu entender tudo tem uma explicação e para quase tudo uma solução ainda que paliativa.
Minhas experiências pessoais e minhas observações juntamente com uma reflexão exaustiva mostram-me que para cada dificuldade enfrentada há sempre uma causa, aparente ou não, e cada um de nós tem uma maneira de enfrentá-la e através desta também fazer desencadear outra seqüência de comportamentos, que algumas vezes podem ocasionar um mal pior que a própria dificuldade.
O que faz com que um jovem enverede pelas drogas? Frustração? Desilusão? Ou simplesmente a vontade de conhecer o outro lado da sua personalidade, aquele que fica escondida por medo da censura? Talvez a vontade de ser livre para fazer o que é condenável pela sociedade, será? Seria um jeito de perder a inibição? Ou a vontade de ter a droga como escudo para sua loucura interna represada?
É um intrincado de sentimentos e emoções envolvidos no comportamento das pessoas e que a partir disso reflete na sociedade. O que faz com que a droga aumente cada vez mais o número de usuários senão a idéia de uma ilusão fantástica, de uma viagem sem fronteiras? A venda da droga também induz ao seu usuário um acesso a liberdade nunca experimentada, bem como uma fonte de prazer. O viciador tem como sua principal arma pegar o usuário pelo emocional, e isso sempre se dá em todos os casos. A meta do indivíduo que induz ou do objeto viciante, é incutir no emocional da vítima sugestões que o levem a experimentar para aliviar alguma “dor” ou dificuldade e consequentemente ficar dependente, o vício nada mais é do que uma dependência psicológica.

Ocorre que atrás da droga existe uma indústria, que enquanto ela destrói vidas, adoece a sociedade, uma parcela de pessoas enriquece. E como a droga é um jeito “rápido e fácil” de enriquecer muita gente acaba mergulhando no tráfico, buscando esse lucro fácil, uma vez que não precisa fazer propaganda, não precisa nada além da droga, dos dependentes e a curiosidade do iniciante. A droga tem um apelo tão forte, que mesmo sendo amplamente divulgado seus malefícios isso não impede que as pessoas caiam na sua armadilha.
O burilar do emocional das pessoas é uma tarefa que fazem com maestria os interessados em vender a droga, empregando técnicas inteligentes; como oferecer gratuitamente para iniciação. Há que se levar em conta que o terreno usado para empregar essas técnicas, que são os mais férteis. Os jovens além de estarem começando a experimentar as coisas da vida, situações novas, sentimentos novos, também estão prontos para se lançarem no que no primeiro instante parece só uma aventura recheada de prazer, e estes são os melhores alvos, pois sem terem ainda compromissos sérios e serem presas fáceis estão abertos às novidades.
Os jovens têm ainda o lado emocional turbulento em função de tudo estar ainda acontecendo como espocar de fogos na sua tão nova existência e por não terem a vivência que lhes dê discernimento experimentam sem avaliar com conhecimento suas conseqüências.
Quando esse jovem não vive uma situação mal resolvida no âmbito familiar ou frustrações próprias muito grandes, ou ainda profundas dificuldades de relacionamento, ele é capaz de simplesmente experimentar sem que isso vire nele um vício. Ouso dizer, que todo jovem que mergulha no vício sem encontrar uma saída tem dificuldades com as quais não consegue lidar, e pior que isso, dificuldades que ele não consegue dividir com outra pessoa. A juventude é rica de acontecimentos; tanto bons como ruins, muito desses acontecimentos o jovem não consegue explicar e não consegue entender e se esse jovem não tiver laços de afetividade fortes, e se não possuir uma família que lhe dê a certeza sólida de segurança nos aspectos emocionais, ele vai se perdendo, no caso aqui, ele se perde da família para as drogas e seguramente para o mundo do crime.
É evidente, que na juventude quando as novidades do corpo e as novidades nas emoções e sentimentos começam, todo jovem vive um momento de muitas dificuldades de entendimento e aceitação, isso não quer dizer que todo jovem experimenta ou que todo jovem vá cair nas malhas da droga, mas que por todo esse acontecimento ele passa a ser uma vítima em potencial não se pode negar.
A principal meta de ataque do vício de um modo geral é onde “dói” no emocional, dessa forma é que se processa o vício por anfetaminas, barbitúricos e etc. Uma pessoa que consome barbitúricos é porque foge da falta de sono, da ansiedade, como a de quem consome drogas de emagrecimento e dos que consomem bebidas. Para todo tipo de vício há uma dificuldade emocional, seja ela aparente ou não.



Os padrões familiares hoje não têm a mesma rigidez de outros tempos; nós os pais tendemos a conceder aos nossos filhos senão tudo, quase tudo que não pudemos ter inclusive o direito de não nos respeitarem. Por isso mesmo nem adianta reclamar quando nossos filhos falam alto, ou nos agridem verbalmente, nós mesmos demos a eles a liberdade de se expressarem desde muito pequenos da forma que entendessem. Ao invés de educá-los com liberdade, incutindo neles o respeito no trato para conosco, nós usamos e abusamos também do desrespeito quando gritamos com eles, quando desrespeitamos sua inteligência e entendimento e quando mentimos para eles.
Protegemos tanto nossos filhos a ponto de não os deixarmos sequer se sujar, com isso eles demoram a crescer. Enquanto nós fomos obrigados, por conta dos costumes, a amadurecer cedo e nos tornarmos responsáveis antes mesmo de ter idade para isso, nossos filhos chegam perto dos 30 anos e até passam dessa idade dependentes financeiramente de nós, só estudando e se preparando para a vida. Lá fora onde nem tudo é tão azul para aqueles que não têm a mesma dignidade de freqüentar uma faculdade os jovens também demoram a se tornar responsáveis, mesmo que trabalhem desde muito cedo, ainda que nesse ponto levem uma pequena vantagem com relação aos que só estudam e dependem exclusivamente dos pais.
Não há um manual que nos ensine como educar, via de regra aprendemos no dia a dia, enfrentando e vivenciado a maternidade e paternidade. Não seremos como nossos pais e nem nossos filhos o serão como nós, cada um descobre a sua maneira de educar.
É claro que existem semelhanças entre os padrões de cada época e por isso mesmo cada geração tem um modelo, que é próprio dessa semelhança de comportamento dos pais.




Trilogia


Três cartas em branco.
Três sorrisos francos.
Incógnitas oferendas;
De partos as prendas.

Três recados distintos.
Três taças de absinto.
Serenatas na chuva,
Vinhos de especial uva.

Três selos marcados.
Três beijos separados.
Três idiomas estranhos,
Três caminhos risonhos.

Uma homilia e três missas.
Três nós, uma madeira maciça.
Uma anunciação, três vidas.
Três bênçãos e três feridas.

Três rios exuberantes,
Agonias lancinantes.
Três certezas consentidas,
Três belezas embrutecidas.

Essências etílicas brutais,
Vertigens tão desiguais,
Humores de frio metal,
Afiadas lâminas do mal.

Três velas içadas no mar;
Navegadores a vagar
Engolindo atônitos vendavais,
Cuspindo terríveis temporais.

Três amores e três dores,
Meus anseios e temores;
Três poemas prediletos,
Três martírios secretos.

Três caprichos da natureza,
Uma inalienável certeza;
Três vidas tivesse, três vidas daria
A cada uma dessas poesias.

sábado, 4 de julho de 2009

a Robotização

É comum ao andar pelas ruas observar as pessoas voltadas para seu mundo, mas as pessoas agora além de andarem voltadas para si próprias começam a andar cada vez mais acompanhadas pelos seus fones de ouvido, um sinal claro de que não querem conviver com o externo e que não admitem se separar de suas maravilhosas “maquininhas de prazer”.
Houve um tempo em que até se podia ter mais privacidade sem que isso implicasse em se isolar dentro de si mesmo usando subterfúgios, com o avanço da tecnologia as pessoas estão mais disponíveis para serem encontradas, entretanto isso se dá muito mais pelo prazer de compartilhar as novas descobertas tecnológicas do que pela absoluta necessidade delas. É evidente que os meios de comunicação mais eficientes e rápidos asseguram a agilidade da vida moderna, o cruel é que escraviza as pessoas antes mesmo que elas se dêem conta.
As facilidades vendidas sem tréguas fazem com que nos sintamos seduzidos incondicionalmente pelas novidades tecnológicas. A intimidade com as máquinas começa muito cedo, e se por um lado faz com as pessoas desenvolvam suas habilidades, produz também um sem número de preguiçosos que preferem nada fazer senão com o auxílio delas; como por exemplo, pequenos cálculos, redigir uma carta de próprio punho entre outras.
Além das vantagens que a tecnologia nos trás é preciso levar em conta que essas vantagens fazem com percamos cada vez mais a mobilidade física, ou busquemos substituí-la por outra artificial além de nos afastar da capacidade de refletir.
É cada vez mais urgente aprender a lidar com as novas tecnologias, uma vez que elas se superam dia após dia com muita rapidez, por outro lado surgem mais e mais cabeças pensantes ocupadas em atribuir funções para essas tecnologias através de softwares e uma preocupação crescente em “robotizar” o mundo para que tudo funcione metodicamente com toda essa parafernália.
Paralelamente a isso o homem se comporta como uma parte dessa engrenagem tecnológica sem se aperceber que está desaprendendo de pensar, de se pensar e se sentir.
Os hábitos estão mudando e ao invés das pessoas passarem mais tempo na companhia de outras fisicamente elas o passam através do celular, do microcomputador. Do mesmo modo relacionamentos de amizade e futuros namoros surgem através desses meios, e muitos deles não passarão de uma tela fria.
Inventa-se todos os dias novas maneiras de se relacionar por essa misteriosa tela fria, usando-se todas as armas que for preciso para impressionar, alguns lançam mão de fotos de outra pessoa, de photoshop e também, claro, da webcam.
É usual para os conectados terminar o namoro por mail, por celular, msn etc, coisas impensáveis quando se leva em conta o peso de um relacionamento por mais breve que ele seja.
Quando a conversa é travada cara a cara as pessoas têm mais pudor em mentir seguidamente, ao passo que se travada por uma tela de computador ela ganha os contornos mais imaginários; pressupõe-se que a falta de olho no olho e a necessidade de impressionar aumenta, e aumenta a ponto das pessoas se sentirem compelidas a mostrar um perfil quase que perfeito, pelo medo da rejeição.
Não há ainda o que indique o porquê das pessoas se sentirem tão atraídas pelo que não podem ver ou tocar no primeiro encontro, ou será que é justamente o não poder matar a curiosidade de imediato que torna as pessoas atraentes?
O interessante é notar que até as pessoas não muito acostumadas a se exporem, acabam por deixar a alma impressa nas entrelinhas de sua fala, mesmo que não o perceba, outrossim, as pessoas mesmo que não tenham o hábito de falar de si, desandam a contar de suas intimidades, gostos e desgostos pelo simples fato de se acharem protegidas ao falar com alguém totalmente estranho e separados por uma tela!? E o mais estranho é se confiar de imediato em alguém que não faz parte do círculo de amigos íntimos.
Esses novos modelos de relacionamentos acabam por minar um pouco o sentimento das pessoas; porque se de um lado aproxima pessoas por afinidades criando expectativas que nem sempre geram uma futura história bem sucedida, por outro desilude outras tantas exatamente por não garantirem a sinceridade desses relacionamentos e o futuro promissor para esses relacionamentos, que na verdade são baseados principalmente em aparência e status. Ainda assim muitos desses relacionamentos chegam a casamentos ou vias de fato, se durarão só o tempo dirá.
O que é muito marcante nesse tipo de relacionamento é falta de compromisso, ou seja, as pessoas usam desse meio como distração, ou para um segundo relacionamento ( extra conjugal ) sem se preocupar com os sentimentos envolvidos. Como sintoma mais grave dos novos tempos cresce desbragadamente a falta de responsabilidade para com os sentimentos do outro e o próprio.



O grande viagra


De repente todos os homens passaram a ser grandes intelectuais, não há homens que não sejam cultos e a quantidade de poetas então, afff, foi pras alturas! Todos os homens agora são sedutores, belos espécimes e garanhões a toda prova. Não existe mais barrigas de cerveja, carecas ( nada contra os carecas, heim) e baixinhos atarracados. Só existe no mercado hoje homens malhados, barriga de tanquinho, perfumados, nobres e galãs.
Quem disse que se encontra agora homens suados e babões, ou tipos com as calças presas no pescoço, chulé e bafo de onça?
Na na ni na não, os homens agora são tão educados e gentis, sempre falam sussurrado, na maior delicadeza, nada de coçar o saco ou palitar os dentes enquanto conversam, são gentlemans e tem as unhas aparadas, nada de unha do dedinho comprida pra coçar o ouvido (argth). Se tem bigodes ou barbas são bem cuidados, nada de encontrar restos do jantar neles.(rs)
Adivinhem se eles envelheceram? Claro que não, e não vão envelhecer, estão todos conservados, e na maior forma física, não os chame de coroas, no máximo de maduros, porque eles ainda estão no maior pique, e ser maduro é sinônimo de charme, principalmente se tiverem boa situação financeira, carro do ano. E se forem grisalhos então... são o sonho de consumo.
Agora é claro que pra não ficarem solitários esses super-homens vão encontrar mulheres poderosas, com corpinho tipo violão, pernas lisinhas, sem nenhum pelinho, bundinhas durinhas e arrebitadas, peitos fartos e olhando pro céu. Pensa que essas mulheres maravilhosas cheiram a donas de casa? Nãão! São todas executivas ou estão com a vida ganha e só fazem trabalhos domésticos porque são prendadas, algumas são mestras na arte de amar outras são doces meninas ingênuas, querendo aprender. Nenhuma delas pensa em arrumar um namorado virtual, estão presentes na mídia só pra desestressarem e mostrarem seus "talentos".
Se você pensou que são todas livres se enganou, e nem todas são comprometidas, mas todas são independentes. Criaturas esculturais, cultas e extremamente delicadas, nunca falam palavrões, se vestem como deusas. Nem ouse pensar que são gordinhas ou que usam óculos, essas divas não tem barriguinhas flácidas, pneuzinhos e estão sempre de unhas feitas, pés macios dentro de saltos deslumbrantes.
E como se isso fosse pouco, esses aviões são grandes escritoras, poetas e artistas, lindas louras e sedutoras.
Nem sonhe em desmascarar essas lindas ninfas, famintas por um noite de amor, dentro de um negligê preto, isso não é justo!
Chato mesmo é descobrir que isso tudo não é real, que o grande viagra está na imaginação de cada um, porque atrás dessa tela podemos ser quem quisermos ser. Há os que gostam de ser verdadeiros, e os que não se aceitam e partem pra fantasia.
O grande barato da era das comunicações em massa é que, os que não fazem mais sucesso ao vivo e a cores estão se dando bem atrás dessa telinha, e torcem pra nunca o virtual virar real, senão acaba o glamour.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Insigth ( continuando)

Com o crescimento tecnológico o homem vai ficando cada vez mais só, porque temos ao nosso dispor maquininhas de todos os modelos e tamanhos, com tantas funções que começa a faltar tempo para o convívio com o outro. Se por um lado o grande ganho desse século é a tecnologia que facilita a vida, que garante conforto, beleza e comodidades, por outro afasta as pessoas, joga-as numa solidão desenfreada. E eis que teremos nas próximas gerações pessoas voltadas para seu próprio eu, tristemente solitárias e depressivas.
Tomara esteja eu redondamente enganada ou as pessoas vão perder a alegria de ser uma obra divina e sem igual.
A troca entre pessoas é saudável e permite que cada um cresça justamente por causa dessa troca indispensável e salutar.
Os sentimentos é que não mudam, temos hoje, como terão amanhã nossos sucessores os mesmos que experimentaram nossos antecessores, o que muda talvez seja a qualidade deles, penso que os sentimentos experimentados em circunstâncias mais simples têm um grau de pureza muito maior. Da mesma forma, que ficam banalizados os sentimentos quando rodeados de outras tantas paixões ou necessidades.
O que muda sempre são os comportamentos, os maneirismos ainda que acompanhados dos nossos velhos e conhecidos sentimentos e emoções. Dentro desse contexto é que é maravilhoso observar como se portam as pessoas, ou como me porto eu mesma diante dessa mudança tão fantástica e rápida; desde a minha adolescência até a adolescência dos de hoje. Como é assustador o salto de comportamento que deu a geração dos meus pais para a idade adulta da minha geração; como rompemos fronteiras, como fizemos concessões e como nos distanciamos dos nossos pais em tão pouco tempo.
Apesar do ganho de liberdade que conquistamos com tanta luta, criticamos hoje o excesso dela; escancaramos tanto a porta que já não encontramos freios para tanta abertura.
O passar do tempo não mudou, no entanto, a essência do homem que depois de tantos séculos continua reagindo de forma muito semelhante.
O que mudou então se não foram os sentimentos as emoções e se continuamos a reagir a eles de forma similar? Mudou a maneira como nos encaramos a nós mesmos assim como mudamos também a forma de encarar o outro.
Os valores com o passar do tempo foram se transformando; com isso as pessoas foram deixando de dar importância ao que por muito tempo regulou os comportamentos; ou seja, as regras. A conseqüência mais desastrosa dessa mudança de valores é que, diminuiu a distância entre as pessoas na mesma proporção que o respeito.
É impossível falar da mudança de valores sem citar a falta de ética que se espalhou por todos os setores da vida moderna. Dizia-se antigamente que um fio de bigode valia pela palavra de um homem, hoje nem assinatura registrada em cartório mais vale.



Anjo e Demônio


Trago dentro do corpo uma prece e um pecado...uma prece que me guia e um pecado que me consome...
Trago dentro de mim um templo e um altar... um para o recolhimento outro para encantamento...enquanto num chora o anjo no outro arde a chama da carne...
Sou o avesso da orgia e uma porta para a utopia...em mim tudo habita...no prazer de cada gesto ou na loucura de cada movimento brusco...na mão pousada em repouso, pela delicadeza de um momento ou na dança dos corpos em muitos movimentos...entre um átomo e o universo o início e o fim de cada ato...
No fio tênue que balança num riso hilário, passeia minha pele e minha sensatez, uma porque é acesa e a outra que me mantém no fio do equilíbrio...uma que sustenta a linearidade e outra que desliza no fio da navalha, têmpera de igual textura, afiada na mesma forja.
Trago dentro de mim uma anjo e um demônio...um que me segura e outro que me empurra...um que me mima e outro que me alucina...
Tenho dentro das minhas entranhas fel e mel, fogo e água, nem sempre na mesma proporção, mas sempre em profusão...nunca uma mistura, na essência que me segura, cada manifestação é pura.
Sanidade ou loucura nem pouca nem muita, doses exatas para o bom rendimento...diante da veia torta que explode ou diante da santidade que me agita...E só uma que em mim grita...a minha alma aflita....que nunca sabe onde se prostra, onde se encosta, se na polaridade da minha vontade ou na liberdade que o vento mostra...
Trago dentro de mim a vida e a morte...em doses não muito precisas...Num talho da vida o amor jorra...e num jorro sem norte, a ceifa colhe a sorte...



Os consultórios dos psiquiatras estão cada vez mais disputados pelas psicoses dos tempos modernos, pela diminuição de preconceito contra os psiquiatras e muito pela perda de pudor das pessoas tratarem seus “diferentes”, e sua própria diferença comportamental. É evidente que não só apareceram agora os esquizofrênicos, os autistas, os maníacos depressivos e os portadores de T.O.C. entre outros, infelizmente a medicina não dispunha desse jorro de informações e tecnologias que se tem hoje para lidar com esses padrões diferenciados de comportamento ( nossos diferentes, ou antes; especiais), nem tantos haviam saído da obscuridade como agora. A partir do crescimento da mídia escrita e falada, da necessidade de produzir notícias e da vigília constante dessa mesma imprensa, nada mais passa despercebido.
É difícil não pensar na diversidade de problemas mentais, mas é mais difícil ainda pensar que os que não estão nessa categoria, e são classificados, se assim se pode dizer, como emocionalmente descompensados, e os de comportamentos perigosos, nefastos ou aflitivos, refletem afora isso um reflexo dos novos tempos.
Nem os pacientes notadamente comprometidos psiquiatricamente para o convívio social têm um atendimento adequado, que dizer então dos que podem e devem conviver socialmente, dos produtivos em tempo onde as pessoas se devoram, consomem e se descartam com tanta facilidade.
Apesar do conhecimento de todas as psicoses inclusive das modernas e apesar de toda a movimentação dos consultórios psiquiátricos estamos longe de conseguir dar um suporte adequado tanto para pacientes como familiares.


Loucura

Quem pode dizer onde termina a razão e começa a loucura. Até onde vai a sanidade de cada pessoa? Será que existe mesmo sanidade ou a loucura nossa de cada dia tem lampejos de lucidez entremeada por um excesso de cuidados.
Quem dirá ser prova concreta da razão em estado de tensão absoluta, atado aos desmandos da cruel domesticação da vontade, ou circunscrito num lúdico jogo de pedras marcadas.
Quem se arvora bater no peito e proclamar senhor dos seus atos, consciente dos reflexos, estando ladeado de risos e grunhidos torturadores e incessantes quando nem se pode fugir do palco da tragicomédia?
Quem pode na platéia esconder o riso ou as lágrimas? Demonstrar mansidão comedida enquanto o espetáculo da vida é tecido e regido pelos fios tênues da suas próprias mãos.
Até quando se pode manter contido num frasco frágil tantos dilemas e perguntas sem respostas, sem que o estopim se acenda pela própria ação do calor inflamado pela pressão interior?
Não existem delitos advindos da loucura que grassa no grande circo dos horrores. Nem tampouco sanidade suficiente para segurar ao pé da razão os marionetes do grande espetáculo.
Fia-se todos os dias a paciência como num mosaico de peças miúdas colhidas uma a uma, com a única finalidade de demonstrar uma aparente sanidade.
E ao final, quem pode assegurar que a vida não passa de uma grande e vil mentira?
Onde a loucura transvestida de razão passeia pelo palco em busca de aplausos, e a sanidade; esta se diverte loucamente nos botecos enchendo a cara.



Por mais que eu observe e por mais que eu procure explicações há coisas que não ficam muito claras; se os sentimentos não mudaram, as emoções também não, por que as pessoas se descartam com tanta facilidade? Talvez seja porque a busca interior de cada um ficou mais exigente, ou será porque as pessoas perderam o mistério? Só isso pode explicar, a meu ver, porque os relacionamentos se descortinam tão facilmente, já desde o primeiro encontro, aí outra pergunta me assalta: Por que devorar-se um ao outro tão sem reservas desde o começo?
É como se as pessoas tivessem uma sede urgente, por isso a pressa de consumar tudo tão rapidamente e sem que elas se dêem conta uma enorme insatisfação que nelas se instala; é o início de um círculo vicioso. O que percebo aqui, é que as pessoas no afã de se satisfazerem tornam-se cada vez mais egoístas, mais e mais voltadas para a sua satisfação que parece nunca saciar, consequentemente vão ficando mais frustradas.



Sobre os relacionamentos modernos


Em meio às tintas de tantas palavras e carinhos sempre uma dúvida me assalta; somos cada um, um universo, e dentro desse espaço que nos acolhe , vivemos soltos sem rastros, sem laços e sem fronteiras, como saber se dentro dessas linhas a sinceridade é pintada com cores fixas...
Já não há segredos tão bem guardados, mas ainda há a perplexidade de se saber que em cada esquina uma nova emoção te colhe e para cada sorriso enviado um novo desejo nasce porque os afetos nem sempre se fecham dentro de uns poucos braços...
Fica a sensação de que não se conhece mais a distância, nem física nem emocional, quando se trata de emoções e de ligações, e quem há de dizer que não existe lealdade estampada nesses semblantes que parecem tão serenos tão vivamente próximos e reais.
Quanto mais o tempo escoa, e mais as relações se estendem como braços em todas as direções, mais se vê a face de cada um. E quanto mais se revela a intimidade, mais se maquia a realidade, fica-se exposto como fruta pronta para ser consumida. Vira-se platéia nesse palco de tantas alegorias e representações onde cada um recolhe seu quinhão de alegria e guarda sua cota de choro, pelas frustrações que entram pelos olhos adentro sem pedir licença, sem ao menos se preocupar se o outro resiste.
Cruéis são os tempos de liberdade exacerbada, de experimentos e novidades onde se paga caro demais para se ter braços abertos e relações estreitas, quando os valores de cada um são diferentes, quando há uma deturpação de conceitos e uma revolução nos sentimentos e nas ligações.
Seria o paraíso, se não houvesse más intenções, mas humanos são os homens e sujeitos a todos os tipos de tentações; frágil na sua estrutura perde-se irremediavelmente sem saber como se comportar num mundo onde tudo está a mostra e pronto para ser consumido, rapidamente.
Escolhas: são elas que nortearão os nossos sentidos, mas antes de optar, há que se conhecer as próprias defesas e monitorar as ações, para que o abismo não seja o ponto final de cada um de nós.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

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É assim poeticamente que é possível traduzir em palavras um pouco de todo o sentimento que vai dentro da alma de uma pessoa “radar”; sim os poetas são radares abertos para o mundo. Deles toda a energia emerge em forma de emoções e sentimentos registrado por palavras, poesias, prosas. Uma espécie de comunicação emocional que só pode ser dita de alma para alma, como se fosse uma confissão.
Infelizmente nem todas as pessoas “radares “ ou “captadores” conseguem extravasar as suas comportas e vão enrijecendo, adoecendo por não se saberem capazes de experimentarem a si mesmas. A face oculta de cada um de nós esconde um mundo que se não entendido pode virar um transtorno psicótico, ou uma patologia.
Se eu posso me olhar defronte o espelho, se eu posso exorcizar meus fantasmas, é claro que qualquer pessoa munida de boa vontade também pode, entretanto é preciso se despir dos preconceitos e aprender a se enxergar por dentro, e a única maneira de se enxergar por dentro é deixar fluírem os pensamentos, aprendendo a pensar e dar ouvido ao que pede o coração.
O corpo costuma acusar a necessidade de parar da mesma forma que a alma e o coração costumam dar sinais de que precisam se comunicar através dos sentimentos.




Parindo palavras

E aí que o meu poema "Gestação" não foi muito bem digerido, questão de título, pouco se quer gestar hoje em dia, nem palavras, o imediatismo de parir, faz com que se bote pra fora das entranhas cada palavra e cada impaciência, o que também de todo não é ruim, mas gestar palavras, embalar no ventre do peito é tão gostoso; porque o parto não sai laborioso; uma vez que já foi mimado e acalentado.
Mas não se deve confundir a gestação de palavras com o "Infarto", porque às vezes pensamos estar gestando palavras, estamos gestando sentimentos, que poderiam nascer em forma de palavras, e por guardar essas palavras enfartamos, simplesmente, e entramos no inferno dos gestos abrutalhados, das palavras azedas, ou pior engolimos as nossas próprias palavras e o peito não agüenta tanta pressão, e enfartarmos inexoravelmente.
Antes que enfarta e perca de vez o chão, ou o pouco de razão que me resta, aceito placidamente a minha gravidez de palavras, embalo-as com cânticos mansos ou com marchas, dependendo de quanto elas me pesarem no peito; acaricio-as para que se sintam em mim confortáveis e num átimo de insensatez ou volúpia, vou parindo uma a uma, lambendo o gosto da placenta, para que venham limpas ao mundo, fortes e atrevidas como pede a vida que elas carregam.
Eu me descubro grávida todos os dias de uma multidão de sentimentos e emoções que nem sempre nascem em palavras...e quando me percebo enfartar; solto minhas crias no mundo, e enquanto elas passeiam eu mimo-as de longe; lembrando de como nasceram.
Embora poético, não quero morrer enfartada de palavras, quero ter sim muitas passagens pela UTI, já que a minha urgência pede socorro imediato, só assim enquanto reclusa na sala de espera da vida, eu possa me dedicar exclusivamente às minhas gestações e partos de amor puro e exagerado às palavras que se aninham dentro de mim.