As vezes me pego pensando se não seria melhor ter nascido longe dos livros e sem essa enorme curiosidade que me move. Quanto mais eu enfio a cara nos livros, mais e mais as dúvidas me assaltam. Quanto mais eu me pergunto, quanto mais eu reflito, mais eu me deparo com perguntas e mais perguntas que não sei as respostas.
É angustiante querer entender e não saber por onde caminhar para descobrir. Aceito, na maioria das vezes, a minha própria definição ou as minhas deduções. Não que não existam respostas, claro que elas devem estar por aí, certamente muita gente já se perguntou, estudou, definiu e ficou satisfeito com suas buscas, eu porém, vivo às voltas com dúvidas imensas, querendo compreender os mecanismos humanos. A observação me ajuda muito, mas não responde a questões que em dados momentos me parecem cruciais e até existenciais.
Se olho para o lado espiritual e até pragmático eu creio que somos todos constituídos por vários corpos vestindo um espírito que é imortal. Bem, se somos espíritos imortais vestindo ao longo dos anos e séculos corpos carnais isso quer dizer que a nossa essência é sempre a mesma, e o que nos diferencia no mundo e nas inúmeras vidas é a círculo em que nascemos, as condições financeiras, sociais, o país, o sexo etc. Enfim respondemos aos estímulos do meio em que vivemos.
Nos é ensinado nas religiões ou doutrinas que creêm no reencarnacionismo que a medida que encarnamos vamos queimando karmas e com isso polindo nossos espíritos, por outro lado outras doutrinas crendo em uma única vida também pregam o desenvolvimento espiritual , a melhora individual de cada ser humano para a eternidade, e aqui a crença também é na eternidade do espírito, ainda que com uma única vida.
Posto isso eu me pergunto: Se a essência é a mesma, se o espírito tem ali em seus registros uma natureza própria e única; como pode ele evoluir sem se perder da sua essência?
É claro que eu acredito, ou quero acreditar no progresso do espírito, mas fico ainda com a impressão de que não se pode mudar totalmente a natureza intrínseca porque esse é o molde no qual ele foi constituído.
Um espírito que traz na sua essência qualidades não vai perdê-las ao longo das sucessivas encarnações porque elas são inerentes ao seu espírito que é imortal. E um espírito que tem desvios de conduta, má formação de caráter será que evolui a ponto de não vacilar nunca mais ou não cair na tentação de fazer uso destes desvios?
Bem, para complicar um pouco mais vamos pensar no seguinte, nos seres humanos encarnados a essência seria o id de cada um, o inconsciente, a parte da psiquê que não temos acesso por livre e espontânea vontade, mas que está lá guardado dentro de nós. O ego é outra partição da psiquê onde estão os pensamentos, comportamentos, a forma e imagem que nás passamos ao mundo de forma consciente . Enquanto o superego é o nosso eu ideal, é aquele policiado por nós, onde só mostramos o que é políticamente aceito e correto.
Visto isso eu imagino então que o id é a nossa mais pura essência já que ela não depende da nossa vontade e está lá no inconsciente; então ela seria a essência pura do espírito com qualidades e defeitos. Agora, se o nosso ego é a a parte consciente, a que mostramos ao mundo, certamente ela terá a influência do id porque ele é a essência do sujeito, encarnado ou não, ainda que ele sofra a influência do meio e o seu espírito esteja sob o efeito do esquecimento de si próprio para a encarnação presente.
E olhando para esse ponto, sem atentar para o lado evolutivo pregado nas doutrinas, ou seja, uma visão puramente racional, eu não posso imaginar um ser humano que traga na sua bagagem espiritual defeitos e qualidades não permitir que elas aflorem, porque certamente elas vão influenciar o seu ego em algum momento.
Estaremos irremediavelmente condenados a não nos livrar da nossa essência se ela nos for perniciosa? Sim, porque a todo momento ela vai aparecer de alguma forma e influenciar comportamentos e ações?
Vamos pensar num espírito que tem hoje por volta de mil anos ( supondo apenas), ele que tem a sua essência imutável ao longo de muitas existências, esteja vivendo encarnado nos dias de hoje, pergunto:
Será que ele é melhor hoje do que era quando foi concebido como espírito?
Não contando com benécias que as doutrinas pregam, olhando pura e simplesmente para uma sucessão de experiências carnais. Teria esse espírito (encarnado nesse momento) evoluído só através das experiências, de erros e acertos, pura e simplesmente?
Não traria esse espírito ranços de sua essência apontando em alguns momentos dessa encarnação, já na 14ª ( mais ou menos) existência carnal, em mil anos de vivências tantas?
Seria o seu ego um manipulador eficaz a ponto de esconder uma essência que não conseguiu se polir ao longo de mil anos de seguidas ingressões carnais?
Se nós não podemos mudar a nossa essência, como então pensar que atingiremos um ponto mais alto pregado em tantas doutrinas? Ou para atingir a nossa melhor condição espiritual visualizando um mundo de seres perfeitos?
Eu entendo como essência o espírito conforme concebido originalmente; com qualidades e defeitos.
É ponto pacífico pra mim, que somos energias imortais, dando-se à ela o nome que for, espírito, alma ou o que for. E pensando assim, não consigo ver saída para esse embate; se concebido sem perfeição, pois assim o sabemos, como querer consertar em uma existência o que é inerente em cada uma dessas energias: a sua essência!