segunda-feira, 19 de julho de 2010

Quebrar Elos


Quebrar laços é muito difícil visto que nós seres humanos necessitamos constantemente de companhia, de vínculos. Não sabemos viver só, mesmo quando queremos, é fato que temos nossa necessidade de privacidade sim, mas carecemos de um ombro para recostar, ou simplesmente alguém para sabermos que está ali, numa eventual necessidade.
Mas laços só permanecem importantes quando são laços firmes, constantes, não há como manter um relacionamento unilateral, ou superficial, ou ainda quando desse vínculo não geram frutos; de amor, amizade, companheirismo ou simplesmente de uma troca espontânea de carinho. E ainda que num encontro de pessoas possa haver um conhecimento mútuo, uma convivência tolerável, isso não significa que os laços se mantém firmes, nem significa que hajam laços. Para que se possa haver ganho dos dois lados, é importante que haja troca, a partir do momento que a troca não mais acontece, o relacionamento, fenece, inexoravelmente.
Todo relacionamento, por mais casual que possa ser, sempre deixa marcas, sempre estabelece alguma confiança, e invariavelmente não assinala algumas metas, ou não traça planos. Seja em que campo for, um relacionamento sempre nos trás algum crescimento, pois dentro deles aprendemos muito mais sobre o ser humano que somos ou o outro, seja daquele que difere de nós, ou daquele que se assemelha a nós, podendo nos afinizar com um e com outro com a mesma intensidade, dependendo única e exclusivamente do quanto se doa e do quanto se recebe.
Alguns relacionamentos deixam marcas mais profundas, outros passam e nos deixam ilesos. Das marcas que vincam nossa alma, algumas apagamos com o tempo, outras nos acompanharão pra sempre, variando da intensidade e da profundidade que elas foram tatuadas em nós.
É certo que para relacionamentos mais longos haverá muito mais marcas para se questionar, do que num relacionamento temporário, mas não se deve pensar que sejam menos importantes umas das outras, porque ao seu tempo cada uma delas teve a sua importância, e só saberá dimensioná-las que as tiver, mais ninguém.
Pensando assim, concluo que quebrar elos, é sempre muito complicado, e para tanto é preciso se munir de muita energia, é preciso rasgar mesmo o peito, deixar doer até os ossos.
Para renascer é preciso antes morrer.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ego ou Eu social

O meu reflexo humano nem sempre representa o que meu eu gostaria de dizer, já que ele quase sempre usa e abusa da imagem mais imediata de mim, ou a que o mundo espera de mim: meu ego.
Não é tarefa fácil conseguir passar de si só a essência pura, a que traz o melhor perfume; seria ela a nossa melhor apresentação ao mundo; faria com que as pessoas nos conhecessem a intimidade dos pensamentos, os sentimentos e as emoções sem máscaras, porém o medo de não sermos aceitos, aquele medo da rejeição por sermos diferentes dos nossos pares fazem com que automaticamente o nosso reflexo busque socorro no nosso eu social, o que se exibe na superfície mostrando unicamente o que interessa para ser aceito.

O eu social é uma invenção do homem por ele temer não saber ser verdadeiro o tempo todo, ou por temer não ser aceito como verdeiramente é. Lidar com uma rejeição ou outra até não é muito complicado, mas não ser aceito nos círculos em que convive é muito difícil para o homem que tem a natureza gregária. E justamente para não se sentir diferente dos seus pares, inventou o eu social que lhe apresenta ao mundo de forma polida ( no sentido do belo) mostrando um eu sempre limpo e apresentável sem que a verdade do seu eu essência nem sempre tão belo e limpo empane a apresentação desejada.
A essência quase sempre é uma desconhecida porque o mais importante acaba sendo passar o eu social, que acorda e dorme diante do espelho de si mesmo matando irremediavelmente o melhor de cada um, ou seja, escondendo a essência. A verdade inalienável que se esconde sob o manto de falsa socialização, muitas vezes nem é compreendida de tanto ser ocultada, muitas vezes até de si próprio.

Entrei em contato com minha essência quando me percebi como pessoa por inteiro, até então sem saber se era minha face oculta ou se loucura. Cheguei a imaginar que eu era uma fraude de mim mesma, até me compreender como uma pessoa em muitas nuances e uma essência bruta que nem sempre sabia penetrar.

Muitas pessoas se descobrem quase por acaso, outras porque se buscam incessantemente e outras passam a vida toda sem se conhecerem de frente, sem saberem quem verdadeiramente são. Não é falso o sujeito que se mistura e nunca sabe quem é o seu eu social ou a sua essência, não passa de um sujeito incompleto e confuso; porque ora ele apresenta um, ora apresenta outro sem ao menos entender conscientemente porque o faz, mas sem dúvida ele apresenta da porta pra fora o seu eu social (ego) e muitas vezes o faz também dentro de casa a maior parte do tempo sem perceber a confusão entre um e outro.

A essência pode ser algumas vezes só expressa através da arte, sem que o sujeito o faça intencionalmente, por mais que o sujeito se esconda atrás do seu eu social, quando ele cria quem na verdade está criando é a sua essência, o seu eu real; e é essa a verdadeira arte, a que emociona, se assim não for é porque a arte não é arte e sim uma obra técnica sem a participação da essência; uma pseudo arte criada pelo eu social para envaidecer mais ainda o ego. Certamente não emocionará.

O veneno do homem está no seu eu social ( ego) que nunca está satisfeito consigo próprio e se sufoca de traumas e somatizações para agradar e para se sobrepor, especialmente num mundo competitivo como é o mundo moderno, esquecendo-se completamente de desvestir as máscaras diárias para se encarar de frente, aceitar suas limitações, frustrações e conviver com elas sem se agredir ou se culpar por não conseguir atingir o topo alto que se impõe, seja no plano da apresentação pessoal ou financeiro.