quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Big bang

De repente começo a me sentir atemporal, como se não importasse mais o antes nem o depois e o agora só existisse porque posso sentí-lo; é uma sensação estranha como se eu não tivesse mais uma identidade; sou mais uma na multidão, um rosto anônimo que não tem marcas e não escolhe mais nada, represento uma raça e é só.
Não é muito, aliás isso não é absolutamente nem um pouco interessante, não tenho poder, não tenho um nome conhecido por alguma habilidade específica que possa contribuir para o bem comum, nem sou detentora de nada nem tenho meios para mudar nada ao redor de mim.
Paro e penso que nem da minha vida tenho as rédeas pois ela corre ao sabor das possibilidades que não estão nas minhas mãos e quase tudo me foge inexoravelmente, ficando eu somente comigo mesmo e minha indefectível consciência. Felizmente ela não me acusa de inércia, ao contrário, ela sempre me aponta direções, mas que nem sempre posso comandar, e eu luto para me manter na superfície, não na superficialidade.
Onde foram parar os sonhos, os ideais? Será que ainda os tenho escondidos sob as dobras dos dias? Ou os matei com a minha identidade que agora é um mero número de CPF?
Não quero só seguir a multidão, me recuso a ser uma réplica humanóide sem rebeldia.
Quero de volta os meus dias azuis, meus sonhos, minha capacidade de voltar a sonhar.
Quero acordar em outro dia, em outra página da história e voltar a ser um personagem com rosto, passado e futuro.
Cadê os meus pares, meus amores? Cadê os meus pecados?
Estou sem chão e sem tempo, acampada em algum lugar que nem sei mais qual é, sem portas de entrada e sem conhecer as da saída.
Que sentimento me envolve agora? Não importa...daqui a pouco nada mais fará sentido, não haverão mais quadros nas paredes, nem telas frias com entrada para outras casas. Nem meu CPF me identificará...
Quiçá haja alguém para contar o que sobrou do meu big bang.